Folha de S. Paulo


Parada LGBT tenta evitar protesto em trios neste domingo na av. Paulista

Marlene Bergamo/Folhapress
A atriz transexual Viviany Beleboni com figurino inspirado na deusa grega Têmis, da Justiça
A atriz transexual Viviany Beleboni com figurino inspirado na deusa grega Têmis, da Justiça

A Parada LGBT de São Paulo completa 20 anos neste domingo (29) com mudanças nas regras para os trios que saem pela avenida Paulista e percorrem a rua da Consolação. As mensagens exibidas em cartazes nos 17 carros de som passaram pelo crivo da organização do evento.

Segundo Fernando Quaresma, presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, a medida foi tomada para que houvesse um controle maior da organização sobre as mensagens dos trios e uma padronização do layout dos carros.

Diferentemente de outros anos, em que trios exibiram faixas contra políticos, como o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), na edição de 2016 os carros não poderão exibir frases contra ou a favor de políticos.

"Este ano, todos os trios estão sob responsabilidade da Parada", disse. "Antigamente, os trios vinham com a sua própria arte na lateral. Agora, vão colocar suas palavras de ordem, mas virão com a nossa arte no banner."

O tema da parada deste ano é "Lei de Identidade de Gênero Já - Todos Juntos contra a Transfobia". Em trâmite no Congresso, o projeto dos deputados federais Jean Wyllys (PSOL-RJ) e Érika Kokay (PT-DF) busca facilitar a mudança de nome de homens e mulheres transexuais.

Para Quaresma, houve a necessidade de padronizar as mensagens na parada para "não deixar o tema se perder e também para o controle da associação, para saber o número de pessoas em cada trio, todas essas questões".

Na edição deste ano da Virada Cultural, na semana passada, diversos artistas utilizaram os telões nos palcos para exibir mensagens contra o presidente interino, Michel Temer (PMDB).

A bancada municipal do partido entrou com uma representação na Procuradoria-Geral de Justiça pedindo investigação, já que o evento é realizado com verba da Prefeitura de São Paulo. A Parada Gay tem um orçamento de R$ 1,5 milhão do município.

Editoria de arte/Folhapress

JUSTIÇA

A modelo transexual Viviany Beleboni, 27, que no ano passado causou polêmica ao sair na parada como Jesus crucificado, vai estar neste ano com um figurino inspirado na deusa grega Têmis, que representa a Justiça.

"Em vez de ter os olhos vendados, um fichário que vai representar a Bíblia será colocado sobre a minha cabeça, mostrando a cegueira dos fundamentalistas religiosos. Não usarei nenhum símbolo sagrado, serão somente representações", disse.

O figurino, elaborado pelo estilista Edson Assnar, é uma forma de protestar contra "pseudorreligiosos que tiram dinheiro de fiéis para financiar campanhas de políticos que só têm um objetivo: tirar os nossos direitos", afirmou.

Viviany disse que, apesar das agressões e ameaças que sofreu, depois da polêmica no ano passado a sociedade passou a discutir o preconceito contra transexuais.

"Evangélicos, católicos e líderes religiosos me pediram desculpas. Padres me convidaram para dar palestras em igrejas. Nas escolas hoje existe uma discussão sobre isso."


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