Folha de S. Paulo


Estudantes completam segunda noite de ocupação no Centro Paula Souza

Sob o frio da madrugada deste sábado (30), que oscilou entre 11ºC e 13ºC na cidade de São Paulo, o grupo de estudantes completou a segunda noite de ocupação no Centro Paulo Souza, autarquia do governo de São Paulo responsável por administrar escolas técnicas e faculdade de tecnologia no Estado.

Desde quinta-feira (28), estudantes de Etecs ocupam o local, onde funciona a administração da rede de escolas técnicas - subordinada ao governo Geraldo Alckmin (PSDB). Também participam da ocupação alunos de escolas estaduais convencionais, muitos deles protagonistas dos protestos do ano passado contra fechamento de salas.

Eles cobram a construção de restaurantes estudantis nas Etecs (Escolas Técnicas Estaduais) ou o fornecimento de vale-refeição enquanto os espaços não ficam prontos.

Organizados por comissões, durante madrugada estavam na portaria os adolescentes responsáveis pela segurança e alimentação. Encolhidos sob cobertores, vestindo casacos e gorros, jovens se espalhavam por todo o espaço, inclusive nas laterais e nos fundos do local, que não tinham iluminação e nem cobertura.

À 1h30 o professor de filosofia Roger Reis, 43, que leciona na rede estadual, entregava aos alunos água e cobertores por cima das grandes. Reis afirmou que apoia a causa dos estudantes e que ajudou da mesma forma durante os protestos contra a reorganização escolar. "Ter um lugar adequado para estudar é um direito deles e isso inclui a merenda. Diante de uma situação tão difícil, essa é uma forma de resistir", afirma.

No portão principal, na rua dos Andradas, cinco jovens secundaristas, três meninos e duas meninas, recebiam a doação. Três deles já se conheciam da ocupação na escola Fernão Dias Paes e, segundo eles, estão no local desde no início desta ocupação. Os outros dois são zona leste da cidade e chegaram às 20h desta sexta-feira (29) para integrar o grupo. Todos reclamaram que a noite estava fria, porém ainda não tinham previsão de até quando ficariam no prédio.

Pais e professores têm abastecido os alunos com mantimentos. Por enquanto, os alunos afirmam que se alimentam de bolachas e produtos que possam ser feitos no micro-ondas, por falta de fogão no prédio.

OUTRO LADO

O Centro Paula Souza informou nesta sexta-feira (29) que os alunos que ocuparam a sede do local se recusaram a dialogar. Em nota, a assessoria de comunicação informou que 90% das escolas técnicas oferecem alimentação, e que a autarquia "segue trabalhando para solucionar questões pontuais com a readequação da estrutura disponível em algumas unidades e a negociação com as prefeituras e a Secretaria da Educação, responsável pelo orçamento, compra e distribuição de alimentos."

O órgão diz ainda que, nos últimos dois anos, investiu R$ 250 milhões na ampliação e melhoria estrutural das escolas.

A diretora do CPS, Laura Laganá, chegou a ir ao local, mas não entrou no prédio. A assessoria de imprensa do órgão diz que a diretora se dispôs a receber uma comissão formada pelos alunos, mas que eles se recusaram a dialogar. Os estudantes querem que Laganá apresente as propostas de negociação por escrito.

OCUPAÇÃO - Estudantes fazem protesto no Centro Paula Souza

Leia a nota do Centro Paula Souza:

A Assessoria de Comunicação do Centro Paula Souza informa que a instituição investiu, apenas nos últimos dois anos, mais de R$ 250 milhões na ampliação e melhoria estrutural na sua rede de educação profissional. As melhorias incluem obras para o armazenamento e preparo da merenda. Hoje 90% das Etecs oferecem alimentação escolar. O Centro Paula Souza segue trabalhando para solucionar questões pontuais com a readequação da estrutura disponível em algumas unidades e a negociação com a Secretaria da Educação, responsável pelo orçamento, compra e distribuição de alimentos.

Na quinta-feira, alunos de Etecs, representantes de movimentos sociais e lideranças estudantis atuantes durante as ocupações das escolas da rede estadual participaram de uma manifestação na sede da instituição, no centro de São Paulo, onde passaram a noite e permanecem ao longo desta sexta-feira. A Superintendência do Centro Paula Souza recebeu um documento com reivindicações que incluem itens como merenda; "democratização"; "terceirização", entre outros, e se dispôs a dialogar com uma comissão de alunos, mas eles se recusaram.

A diretora-superintendente da instituição, Laura Laganá, conversou pela manhã com os estudantes e reiterou a disposição em receber uma comissão formada por eles. Ela lembrou que eles não estão instalados em uma escola, mas em uma área administrativa, impedindo funcionários de trabalhar. Caso o acesso continue bloqueado, o fechamento da folha de pagamento vigente ficará prejudicado.


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