Folha de S. Paulo


Gestão Alckmin descumpre ordem judicial para entregar dados à Folha

Convidado para assumir a AGU (Advocacia-Geral da União) em um eventual governo de Michel Temer, o secretário paulista Alexandre de Moraes (Segurança Pública) tem descumprido ordem judicial para entregar à Folha os registros policiais usados como base dos balanços mensais das estatísticas criminais do Estado de São Paulo.

A decisão foi dada no início do mês pelo juiz Alberto Alonso Muñoz, da 13ª Vara da Fazenda Pública. Nela, ele determina ao governo Geraldo Alckmin (PSDB) a entrega dos dados em até cinco dias.

Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
O secretário de Seguranaça de SP, Alexandre de Moraes, durante operação na sede da Gaviões da Fiel
O secretário de Segurança de SP, Alexandre de Moraes, durante operação na sede da Gaviões da Fiel

Na decisão liminar, recebida pela Secretaria da Segurança Pública em 8 de abril, o juiz afirma que, se o prazo não fosse cumprido, o governo paulista poderia ser enquadrado em ato de improbidade administrativa e eventual crime de desobediência.

O governo do Estado recorreu da decisão, mas o Tribunal de Justiça ainda não apreciou o recurso. A decisão do juiz Muñoz continua válida.

Diante desse descumprimento, na tarde desta quinta (28) o juiz intimou o secretário de Alckmin a entregar os dados à Folha em um prazo "improrrogável" de 24 horas. Nessa decisão, o juiz ainda afirma que não há "justificativa plausível para o descumprimento da ordem judicial".

Procurada, a secretaria afirma que não há descumprimento de ordem judicial. A pasta é obrigada a fornecer a íntegra dos boletins de ocorrência, referentes aos assassinatos ocorridos no quarto trimestre de 2014 e terceiro trimestre de 2015, e a lista dos "registros de entradas de corpos nas unidades de IML no município de São Paulo", de janeiro a dezembro de 2006 e novembro de 2014 a outubro de 2015.

A abertura desses dados permitirá uma checagem dos balanços criminais do governo. Em março passado, segundo a gestão Alckmin, o Estado atingiu a marca de 8,73 homicídios para cada 100 mil habitantes.

NO ESTADO -

IMPRENSA LIVRE

As estatísticas mensais do governo de SP não possuem auditoria externa. Os números são baseados em registros policiais mantidos sob sigilo pela administração Alckmin e pelo secretário Moraes.

Para checar os dados, a Folha solicitou à Justiça o acesso a esses registros policiais de homicídios, os chamados boletins de ocorrência.

Segundo especialistas em segurança pública, a tendência de queda dos homicídios parece clara, mas, pela falta de transparência da gestão, não é possível saber seu tamanho exato.

Ao embasar sua decisão para o fornecimento dos dados, Muñoz cita a Constituição e o papel fiscalizador da imprensa livre. "A Constituição atribuiu à imprensa, que deve ser livre, a função imprescindível de colaborar na fiscalização do Poder Público, informando a sociedade para que possa exercer os mecanismos de pressão e correção política necessários à democracia."

Ele completa: "A informação jornalística só tem utilidade se tiver atualidade (do contrário, consistiria em informação histórica), de sorte que, perdendo sua atualidade e interesse pela questão, sairia ferido o direito à informação".


Endereço da página:

Links no texto: