Folha de S. Paulo


Atrasado 38 dias, outono 'começa' em São Paulo; veja dicas para a saúde

"Não vai ter golpe climático!", pedem os amantes do frio, desacostumados ao calor atípico nesta época do ano. Não vai ter mesmo: apesar de ter começado oficialmente há 38 dias, o outono paulistano estreia de fato nesta quarta-feira (27).

Primeiro, com chuva. A frente fria que rompeu a barreira formada há semanas pela massa de ar quente causará pancadas ao longo do dia.

Mas a chuva deve passar logo e, na quinta (28), dar lugar à notícia tão esperada por muitos: atrás da frente fria, vem uma forte massa de ar polar que fará com que as madrugadas tenham temperaturas que podem ficar entre 13ºC e 14ºC em algumas regiões da cidade.

Como o sol deve voltar, as temperaturas vão subir e tendem a passar dos 20ºC durante as tardes, até, pelo menos, o próximo fim de semana.

"É a queda de temperatura mais esperada da história", comemora a designer Mariana Nóbrega, 31.

A afirmação é referendada por outras 43 mil pessoas que confirmaram presença no evento criado por ela ("de brincadeira!", esclarece) no Facebook para celebrar, "todos de cardigã", a chegada da frente fria. Quem quiser aparecer, é nesta quarta, às 10h, no vão-livre do Masp.

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TEMPERATURA NA CAPITAL (°C)

Mariana elenca os motivos tradicionais de quem gosta do frio: "Você sua menos, não derrete ao longo do dia, usa roupas mais bonitas e pode comer 'fondue'".

A garoa em algumas regiões da capital no começo do dia nesta terça (26) entusiasmou a estudante Pamela Espíndola, 22, uma amante das estações outono e inverno.

Ela escolheu uma jaqueta de couro dentre outras peças que já havia tirado do armário e saiu de casa, em Cotia (Grande SP), às 8h, achando que faria frio. O clima de fato foi mais ameno. Segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) a temperatura máxima, de 26,8°C, foi a menor desde o dia 13 de março.

"Eu e meu namorado já estamos escolhendo o cardápio do fim de semana: risoto de funghi ou macarrão com molho três queijos", disse.

Mas é sua mãe quem espera mais a chegada do frio. Lívia Luiz, 41, trabalha em uma importadora de vinhos e sentiu o peso do calor nas vendas. "No frio rende mais."

Não para todos. Quase 5.000 usuários se reúnem na "Marcha Contra a Frente Fria em SP", um "contraevento" àquele que celebra a chegada do clima ameno. É ali que usuários brincam uns com os outros: "Cadê o time a favor do impeachment do inverno?", "Temperaturas abaixo de 10ºC não são pedalada climática", "Não ao golpe solar".

É improvável, porém, que as pessoas contrárias à frente fria peguem "seu biquíni, sua canga, seu protetor solar e seu isopor" e protestem na Paulista, como propõe o grupo.

O calor das últimas semanas –São Paulo registrou recorde de 14 dias seguidos acima de 30ºC num mês de abril– não volta mais, afirma Graziella Gonçalves, meteorologista da Somar Meteorologia. Segundo ela, o outono vai seguir o seu padrão normal, de dias frios e quentes de forma alternada.

Mas, a partir do final de junho, quando o inverno chegar, a situação tende a ser diferente dos dois anos anteriores, quando praticamente não fez frio na capital. "Este ano vamos ter um inverno com ondas mais fortes de frio que em 2015 e 2014. Não será o inverno todo assim, mas teremos mais dias seguidos de frio."

PRECAUÇÕES

A queda brusca de temperatura, como a que vai ocorrer entre esta quarta (27) e quinta (28), requer cuidados extras de saúde, porque ela interfere na forma como o vírus circula entre as pessoas.

Com o frio, é normal que o vírus influenza, que causa a gripe, circule mais.

Sem vontade de ficar ao ar livre, é natural que as pessoas prefiram ficar em lugares fechados, aglomeradas e sem ventilação natural.

"Isso é o que deve ser evitado", afirma o pediatra Sylvio Renan, da Clínica MBA.

"Até mesmo nas escolinhas, é preferível deixar um pouco a janela aberta do que ficar em um ambiente totalmente fechado."

E mesmo na maior parte dos dias –com exceção daqueles muito frios–, é recomendável que seja feita atividades ao ar livre, diz Renan. "Ventilar o ambiente, para trocar o ar, ajuda a diminuir a quantidade de vírus naquele espaço", concorda Ligia Pierrotti, infectologista do Delboni Medicina Diagnóstica.

"Não vai levar uma blusinha?", frase bastante ouvida nesses dias, também deve ser um pouco relativizada, segundo os médicos.

"Isso é mais coisa de mãe" afirma Renan. As doenças de inverno, segundo ele, ocorrem quando há contato com os vírus e as bactérias, e não por causa do frio em si.

Para Pierrotti, em dias frios agasalhar-se corretamente tem sua utilidade. Com um bom aquecimento, o sistema de proteção aos vírus também tende a funcionar melhor.

"Com o frio, por exemplo, os cílios das vias aéreas superiores [nariz] ficam apáticos, o que facilita a entrada dos vírus." Outra dica infalível, segundo os médicos, é lavar bem as mãos.

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IMPACTOS NA SAÚDE

  • A oscilação de temperatura e o frio podem desregular o sistema de proteção do corpo, aumentando o risco de contrair doenças, principalmente a gripe
  • Pessoas com problemas crônicos (de pulmão, por exemplo) devem ficar atentos a sintomas como falta de ar e secreção pelo nariz ou boca muito espessa, de cor esverdeada ou amarelada

CUIDADOS EM DIAS FRIOS

  • Lavar as mãos sempre
  • Evitar lugares fechados com aglomeração
  • Abrir sempre as janelas, mesmo que esteja frio
  • Se agasalhar de forma a não suar muito nem deixar o organismo gelado
  • Higienizar casacos, cobertores, mesas e maçanetas (um grande foco de vírus)
  • Evitar contato com pessoas que estejam espirrando e tossindo muito

GLOSSÁRIO

* Massa polar
É uma massa de ar que se origina nas regiões polares. Durante o inverno, provoca queda de temperatura em quase todas as regiões do país e, em muitas vezes, geadas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste

* Frente fria
É a extremidade principal de uma massa de ar fria que avança deslocando o ar quente de seu caminho. Geralmente, a temperatura e a umidade diminuem, o vento muda de direção e a chuva antecede ou sucede a frente fria

* El Niño
Um fenômeno em que há um aquecimento anormal da superfície do oceano Pacífico, na região equatorial. O que está em vigor atualmente, e está quase no fim, vem influenciando o clima global desde o inverno de 2015. Dura, em geral, de 9 a 12 meses e normalmente se forma em intervalos que variam de 3 a 7 anos

* La Niña
É o contrário do El Niño: ocorre um esfriamento fora do normal do oceano Pacífico Equatorial. As águas na região ficam com temperatura abaixo da média


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