Folha de S. Paulo


Trânsito em horário de pico teve redução de 16,6% na capital de SP

Rivaldo Gomes - 20.jul.15/Folhapress
Placa mostra limite de 50 km/h na pista local da marginal Tietê
Placa mostra limite de 50 km/h na pista local da marginal Tietê

O trânsito na cidade de São Paulo teve uma redução de 16,6% nos horários de pico à tarde (das 17h às 20h), em 2015, segundo a gestão Fernando Haddad (PT). Os dados da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) apontaram uma média de 95 km nessa faixa de horário –em 2014, foram 114 km de extensão.

No período de trânsito mais intenso pela manhã (das 7h às 10h), a redução foi menor: 6,6%. Em 2015, a média foi de 70 km contra 75 km, em 2014.

A gestão Haddad atribui os resultados às "medidas adotadas pela Prefeitura para a melhoria do trânsito da cidade", como a ampliação de faixas de ônibus e de ciclovias, a reforma de semáforos e a redução da velocidade máxima nas Marginais e em outras vias.

Redução do trânsito nos horários de pico em São Paulo - Lentidão, em km

Segundo secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, "foram essas diversas intervenções no viário que, na nossa avaliação, fizeram com que melhorasse a fluidez, tanto dos ônibus como dos carros". "Quando se implanta uma faixa de ônibus, você acaba tirando o carro estacionado, ganha mais uma via na cidade e facilita carga e descarga. O mesmo ocorre com as ciclovias."

Para Tatto, a redução da velocidade máxima permitida em diversas vias da cidade colaborou também para a melhoria na fluidez nos horários de pico porque com a redução de acidentes, os demais veículos ficam menos tempo parados.

"Além disso, a redução da velocidade traz um espaço menor entre um veículo e outro. É como se ganhássemos mais uma faixa. O trânsito fica mais compacto."

A CET mede a lentidão entre 7h e 20h a cada 30 minutos. Segundo a companhia, foi registrada queda dos congestionamentos nos 27 horários de medição.

CRISE

Os números apresentados pela prefeitura, segundo especialistas, podem ser explicados pela intensificação da crise econômica no país. Para o professor do Mackenzie Paulo Bacaltchuck, "isso [a queda do tráfego em horários de pico] se deve, basicamente, à recessão. Houve uma queda de 5,5% no número de caminhões transitando na cidade, o que contribui para a diminuição dos congestionamentos e para as mortes no trânsito".

O engenheiro de tráfego e consultor diz que discorda da totalidade das justificativas para a redução de tráfego nos horários de pico apresentadas pela prefeitura.

"Na minha opinião, a redução se deve à recessão, que causa uma redução no número de caminhões que circulam pela cidade. Houve uma queda de 5,5% dos veículos pesados nesse mesmo período. Isso realmente contribui para a redução no congestionamento e no número de mortes no trânsito."

O secretário Jilmar Tatto diz que não é possível atribuir a redução do trânsito à crise, pois não existem dados que comprovem essa tese, segundo ele.

"Eu fui estudar o assunto, até para saber se isso teve alguma influência. Não acredito nisso. Não sei qual a base deles [especialistas] para dizer isso. Aumentou o número de veículos em São Paulo, mas não aumentou o número de pessoas na cidade."

Tatto afirma ainda que foram pesquisadas várias capitais, como Rio de Janeiro, Recife, Salvador e Belo Horizonte para saber qual foi a redução do trânsito nos horários de pico. "Lá não houve essa melhora da fluidez e a crise me parece que é generalizada. Eu os considero pseudoespecialistas. Qual a base de dados que eles estão consultando? Eu não consigo identificar", afirma Tatto.

Para Bacaltchuck, o Rio não pode ser usado como parâmetro, já que a cidade possui diversas obras viárias. "Cada capital tem que ser analisada especificamente, mas o Rio eu sei que está em obras. Há o Porto Maravilha, a derrubada da Perimetral, obras do Metrô. Tem que comparar banana com banana. O Rio não vale como comparação."

O professor Creso de Franco Peixoto, especialista em transportes do Centro Universitário da FEI, em São Bernardo do Campo (SP), segue linha de pensamento semelhante. Para ele, "a cada ponto percentual de queda no PIB vemos uma equivalência nos níveis de veículos (circulando)".

Assim como Bacaltchuck, Peixoto diz que a relação apontada pelo secretário com outras capitais brasileiras não pode ser levada como base de comparação. No caso do Rio, pelos mesmos motivos apontados pelo professor do Mackenzie, o número desproporcional de obras que afetam a cidade. Em relação às demais capitais, porque "o resfriamento da economia nacional em dois anos consecutivos é maior no Sudeste", ou seja, a atividade econômica na região teria sido mais impactada pela crise do que o resto do país, distorção que teria reflexo no fluxo de veículos.

O especialista da FEI admite a participação das medidas viárias da prefeitura na redução do tráfego, mas conjectura que esse fator seria responsável por apenas 25% da melhora do trânsito –sendo 60% creditados à recessão. Os demais 15%, segundo Peixoto, seriam por um "fator psicológico".

"Quando a economia está estável, as pessoas se sentem mais à vontade para sair de casa, vão ao shopping passear." Com a retração da economia, segundo o professor, as pessoas fazem menos viagens, "para proteger o orçamento".

PROVA REAL

Em março, a Prefeitura de São Paulo já tinha chamado para si o crédito pela redução do número de mortes no trânsito, mas também foi contraposta por especialistas. Peixoto faz uma provocação para resolver a questão do mérito na melhora dos valores do trânsito da capital paulista.

"O reaquecimento da economia (em alguns anos) é que vai mostrar os valores reais. Será aí que poderemos comparar se esses percentuais são bons", afirma.

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