Folha de S. Paulo


Maioria dos mortos por vírus no país não é foco de campanha de vacinação

Com dores na garganta e no corpo, o construtor José Carlos Andriatti, 48, procurou um hospital particular e foi diagnosticado com faringite. Três dias depois, como não melhorava, voltou ao pronto-socorro.

"Dessa vez os médicos desconfiaram que seria gripe H1N1 e ele foi internado no isolamento", diz sua mulher, Gisele, 44. Em cinco dias, ele morreu de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave), uma complicação da gripe.

Casos como o de José Carlos acendem o alerta em relação aos óbitos por SRAG. A campanha de vacinação na rede pública é voltada especialmente para pessoas com mais de 60 anos, mas a maioria dos mortos pela gripe tinha idade inferior.

Também gera preocupação o fato de que a gravidade da doença não tem sido percebida a tempo pelos médicos.

É o que conta a família do pedreiro Daniel da Silva, 51, que morreu em março deste ano em um hospital público.

"O médico disse que era só uma dor de garganta e ele ficou tomando anti-inflamatório por cinco dias", diz a filha Daniela Silva Tasso, 28.

Somente depois de procurar atendimento médico pela segunda vez é que Silva foi diagnosticado com H1N1. "Meu pai tinha uma saúde de ferro", afirma Daniela.

Ilustração Leonardo Gibran
Ilustração sobre gripe H1N1

Para o infectologista Marcos Boulos, coordenador de controle de doenças da Secretaria de Estado da Saúde, a demora na identificação da gripe é um dos principais problemas em relação ao surto. Segundo ele, a doença tem sido confundida com dengue.

Em 2016, até 29 de março, 59 pessoas morreram pelo vírus influenza no Estado (sendo 55 por H1N1), que responde por mais de 80% dos óbitos por gripe no país.

Embora 75% dos mortos tivessem algum fator de risco (como hipertensão, diabetes e obesidade) e direito à vacinação gratuita, a maioria não tinha sido vacinada em 2015.

"Independentemente da idade, recomendamos a vacinação aos doentes crônicos, mas muitos hipertensos ou diabéticos controlados não se consideram doentes e não se vacinam", diz Boulos.

A pediatra Lúcia Bricks, diretora médica da Sanofi Pasteur, fabricante da vacina, diz que muitas pessoas nem sabem que pertencem ao chamado grupo de risco.

"Muitas vezes, o quadro gripal se complica porque a pessoa tem uma doença cardíaca ou pulmonar prévia, mas não sabia disso."

Para a médica, o fato de muitos casos graves atingirem adultos jovens é outro item que merece atenção.

MEDICAÇÃO

Uma preocupação dos governos é que o antiviral oseltamivir (Tamiflu), indicado para combater a infecção provocada pelo H1N1, não está sendo usado da forma certa.

O ideal é que o medicamento seja introduzido em até 48 horas depois do aparecimento dos sintomas. No caso das pessoas que morreram, segundo o Ministério da Saúde, o antiviral foi administrado, em média, seis dias após os primeiros sintomas.

"Se o quadro for grave, com febre, tosse seca e prostração, nem precisa esperar o exame para medicar", diz Celso Granato.

Para a diretora da Sanofi Pasteur, seis dias é muito tempo. "As primeiras 48 horas são fundamentais. Depois disso, o vírus já pode ter feito muitos estragos."

CASOS NO BRASIL - Notificações de Síndrome Respiratória Aguda Grave associada ao H1N1, até 22.mar*


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