Folha de S. Paulo


Saída de vento em rua do centro de SP vira secador de cães, roupas e cabelos

A chuva tinha passado havia pouco tempo no centro de São Paulo. Uma moradora de rua, toda molhada, parou em frente a uma saída de vento de um hotel. Tirou a blusa e ficou nua, com os seios à mostra. Então estendeu a roupa na frente da ventania que saía de um buraco.

Em outro dia, a terapeuta corporal Leda Matosalem, 57, passeava com seu cachorro pela mesma região. Bambino Dominique, o cão, havia acabado de tomar banho. Ele parou assim que passou na frente do buraco. E ficou.

O túnel de vento do Novotel Jaraguá -tradicional hotel do centro da cidade- é gratuito e democrático: seca cachorros, roupas e os próprios moradores de rua, diverte crianças e ameniza o calor de quem trabalha na rua Martins Fontes.

Na lateral do prédio de 24 andares há uma espécie de grelha que funciona como saída de ar. O forte vento que escapa dali refresca toda a calçada. "É uma ventania danada. Quando está muito calor, a gente vai ali tomar um pouco", diz um garçom do Bar Estadão, na frente do hotel.

Marcus Leoni/Folhapress
A terapeuta corporal Leda Matosalem e a cadela Katara, `habitués' da saída de vento
A terapeuta corporal Leda Matosalem e a cadela Katara, `habitués' da saída de vento

Quem gosta mais são os cães do bairro. Eles se sentam na calçada e relaxam com o ar que balança o pelo. Dominique, por exemplo, só sossega por ali. "Acho que o vento o acalma", diz a dona, Leda Matosalem, que mora a poucos metros do lugar.

Toda vez que dá banho no cachorro, ela o leva para se secar no túnel. "Ele só aceita esse secador", conta. Dominique descobriu a ventania há um ano. Agora, chega a ir até lá três vezes por dia. "Acho que ele está viciado", afirma a terapeuta, que também aproveita para secar os próprios cabelos depois do banho. "É de graça", ri.

O comerciante Alex Ferraz, 42, também costuma levar até a saída de ar seus dois cães, o Aang e a Katara -os nomes são uma homenagem aos personagens da série de desenhos Avatar.

"Quando está calor, vem aquele ventão. Balança o pelo todo deles. Os cachorros gostam, refresca. É como a gente quando entra em uma loja com ar-condicionado", explica ele.

Às vezes Alex e Leda até combinam de se encontrar para levar os cachorros ao túnel do hotel Jaraguá.

DE ONDE VEM O VENTO?

O prédio em que o hotel funciona foi inaugurado em 1954, nas comemorações do quarto centenário de São Paulo. De estilo modernista, o edifício já abrigou o jornal "O Estado de S. Paulo".

Os funcionários também gostam de ficar embaixo do ar. Na tarde de sexta (1º), quando os termômetros marcaram 30ºC, cinco pessoas descansavam ali depois do almoço. "É um refresquinho", disse uma delas, que não quis se identificar.

Mas de onde vem o vento? "Olha, vem lá de baixo, mas não sei direito", respondeu. "Acho que é uma saída do ar-condicionado", arrisca a terapeuta Leda. "Sente o cheiro. Não parece de ar-condicionado?" Parecer até parece, mas não é.

O Novotel disse que o vento vem de uma saída de ar da cozinha. "Não parece que tem um cheiro de gordura?", pergunta o comerciante Alex. Até que parece.


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