Folha de S. Paulo


Taxistas fazem manifestação contra o Uber no Rio

Taxistas provocaram um colapso no trânsito do Rio nesta sexta-feira (1) com uma sequência de bloqueios de ruas e avenidas em protesto contra o aplicativo Uber.

Desde o início da manhã, vários comboios de táxis estacionaram em vias como a ponte Rio-Niterói, o acesso ao aeroporto internacional do Rio (na Ilha do Governador), o Aterro do Flamengo, a avenida Atlântica (em Copacabana), as linhas Vermelha e Amarela, e a avenida Brasil.

A estratégia foi parar o tráfego em acessos cruciais para o fluxo de carros na cidade. Cada comboio reunia entre 20 e 50 carros, na maioria dos bloqueios. Em cada via interrompida, equipes da Polícia Militar e a CET-Rio negociavam a liberação das faixas com os taxistas.

Reprodução/TV Globo
Protesto de taxistas contra o Uber trava trânsito no Rio de Janeiro na manhã desta sexta-feira (1º)
Protesto de taxistas contra o Uber trava trânsito no Rio de Janeiro na manhã desta sexta-feira (1º)

Após a liberação das pistas, surgia em seguida outro grupo de taxistas para bloquear novamente o trânsito. Esta situação se repetiu ao longo de toda a manhã na avenida Francisco Bicalho, no centro do Rio. Em qualquer situação, a interrupção desta via causa um engarrafamento imediato na linha Vermelha, na avenida Brasil e na ponte Rio Niterói.

No fim da manhã, a mobilização diminuiu. Um grupo, no entanto, bloqueou um trecho da avenida Antônio Carlos, no centro do Rio, próximo ao Tribunal de Justiça.

Uma liminar concedida pela 6ª Vara de Fazenda Pública em outubro passado suspendeu a lei sancionada pelo prefeito Eduardo Paes, que proibia a circulação de carros do aplicativo Uber no Rio.

Às 12h30, taxistas ainda estavam concentrados em frente ao tribunal em protesto contra a decisão do poder judiciário.

UBER OFERECE DESCONTO

Em nota, a direção do Uber no Brasil afirmou que "os usuários têm o direito de escolher o modo como desejam se movimentar pela cidade e que os motoristas parceiros têm que ter seus direitos constitucionais de trabalhar (exercício da livre iniciativa e liberdade do exercício profissional) preservados".

Diante da ofensiva dos taxistas, a empresa ofereceu nesta sexta-feira um desconto de R$ 20 para as viagens iniciadas ou concluídas em 18 áreas afetadas pelos bloqueios.

Uma fila reuniu ao menos 100 táxis amarelos na orla da Praia de Copacabana já a partir das 5h30. Taxistas, muitos deles auxiliares (motoristas sem alvará), discusaram contra o Uber em um carro de som.

Reclamaram da tarifa mais barata que o aplicativo cobra dos passageiros. Afirmaram que motoristas do Uber não pagam as taxas e impostos que incidem sobre os táxis, como o seguro de responsabilidade civil obrigatório para o transporte de passageiros.

Houve confusão quando um carro preto foi confundido com um Uber. Era, na verdade, o carro de um policial civil, que mostrou a carteira funcional quando os motoristas se aproximaram para intimidá-lo.

"O movimento começou na Semana Santa, quando registramos queda de 70% no movimento. Estamos perdendo clientes para motoristas piratas", disse Raphael Guedes, integrante do movimento, taxista há 18 anos.

No carro de som, um manifestante fez uma crítica à sociedade que protesta contra a corrupção no Brasil, mas usa o aplicativo.

"Não adianta bater panela contra a corrupção e usar carro pirata", disse.

Guedes questiona a não distribuição de novas autonomias [alvarás] pela prefeitura. "Se tem mercado para 10 mil Ubers porque não distribui novas autonomias. Cerca de 90% dos motoristas de táxis no Rio são auxiliares. Por que não distribui novas autonomias?", disse.

Os taxistas que têm alvarás têm o direito de alugar seus carros a motoristas auxiliares que pagam uma média de R$ 200 pela diária para prestar o serviço. Estima-se que existam em torno de 30 mil táxis no Rio.
"Se a sociedade quer um novo sistema de transporte, que ele seja discutido e regularizado", disse o taxista André Luis Silva.

SANTOS DUMONT

Além de causar transtornos no trânsito, a manifestação de taxistas atrapalhou quem ia ao aeroporto Santos Dumont, no centro do Rio.

Por volta das 9h30, quando a carreata chegou ao aeroporto, pessoas que tinham voo marcado carregavam a pé suas malas.

Muitas delas revoltadas com o protesto. Era o caso do advogado Cristiano Campelo, 34, que corria de terno e gravata carregando sua mala pelo Parque do Flamengo, que dá acesso ao aeroporto. Seu voo para Belo Horizonte estava marcado para as 10h.

Ele defendeu a regulamentação do serviço do Uber e disse que, até então, entendia a reivindicação dos taxistas. Diante dos transtornos, contudo, se voltou contra o serviço convencional de táxis.

"Achei totalmente exagerada a manifestação. É compreensível que os ânimos estejam alterados no país, mas fazer um protesto dessa magnitude em plena sexta-feira e no início de mês é inadequado. Acabei de instalar o Uber no meu celular", disse.

Um grupo de três paulistas que passou uma semana no Rio a trabalho demorou duas horas para chegar ao aeroporto. Eles inicialmente pegaram um Uber, cujo motorista deixou a corrida no meio com medo de represálias de taxistas. Eles pegaram um ônibus, que ficou preso no trânsito. Completaram o percurso a pé, carregando malas.

"Eu não pego mais taxi. Eles não aceitam concorrência. Eles têm de entender queba tecnologia chegou para ficar e há espaço para todos os serviços. O direito de protestar existe, mas e o meu direito de ir e vir?", disse Bruno de Paula, 31.

Na mesma situação, a arquiteta baiana Renata Almeida, 29, antecipou sua chegada ao aeroporto, mesmo que seu voo seja as 15h. Ela, que tinha um compromisso de trabalho pela manhã na Barra da Tijuca, zona oeste, tentou pegar um táxi a partir das 6h, sem sucesso. Decidiu cancelar o compromisso e se concentrar para chegar ao aeroporto.

Ela, contudo, disse apoiar a manifestação de taxistas. "Eu não acho justo que os taxistas paguem uma série de impostos e taxas e o Uber preste um serviço sem qualquer regulamentação", disse.


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