Folha de S. Paulo


Invasor de fórum fez vídeo forçando juíza a declará-lo inocente; assista

Homem invade fórum em SP

Alfredo José dos Santos, 36, o homem que invadiu o fórum do Butantã na tarde da última quarta-feira (30), gravou um vídeo forçando uma juíza a declará-lo inocente.

No vídeo, Santos aparece rendendo a juíza Tatiana Moreira Lima, que está deitada no chão. Ele se dirige à câmera do celular dizendo que queria provar que ele era inocente. Ele então força a magistrada a dizer durante a gravação que Santos era inocente.

Pelas imagens, é possível ver que o chão no entorno da juíza está com uma grande quantidade de líquido que, segundo a polícia, era inflamável.

O vídeo foi enviado por um leitor pelo Whatsapp da Folha:11-99490-1649.

Veja abaixo o diálogo gravado por Santos:

Santos: Daiane, eu te amo. Fala Para a Vitória que eu amo ela. O pai te ama e o pai falou que vai mostrar a verdade para você e para o mundo inteiro. Eu estou com uma pilantra aqui e vai falar uma coisa para você. Presta muita atenção.

Juíza: Ele é inocente.

Santos: Eu sou o que, senhora?

Juíza: Seu pai é inocente.

Santos: Fala mais alto.

Juíza: Seu pai é inocente.

Santos: Fala o seu cargo nessa instituição

Juíza: Eu sou juíza

Santos: Agora cala a tua boca que eu vou falar. Amigos, eu falei que eu ia provar. Mesmo debaixo da terra eu vou provar que eu sou inocente.

Outro vídeo, que circula em redes sociais, mostra também o momento da abordagem da Polícia Militar para prender Santos. Durante a negociação, policiais avançaram sobre Santos que estava sobre a juíza. Há correria e a magistrada é retirada da sala. Um policial aciona um extintor de incêndio e, pelo menos, quatro PMs correm para render Santos.

Momentos antes da prisão, os policiais tentavam acalmar Santos, que pedia a presença de uma equipe de TV no fórum. Aparentemente transtornado, Santos exigia que a juíza dissesse em voz alta que ele não era louco e nem culpado de crimes.

Segundo a polícia, Alfredo José dos Santos aparentava ter problemas psiquiátricos e ameaçou atear fogo na juíza Tatiana Moreira Lima, responsável pela vara da Violência Doméstica. Motorista, Santos cursou ensino técnico de química.

O CASO

Por volta das 14h, invadiu o fórum correndo pela saída, sem passar pelo detector de metais e pela segurança, carregando uma bolsa cheia de garrafas pet com solventes inflamáveis, como gasolina, querosene e etanol.

Subiu as escadas ateando fogo no prédio. Um segurança atirou em sua direção, mas acertou a parede. Foi quando ele entrou na sala da juíza. Segundo a polícia, Santos jogou gasolina nele e na vítima. Obrigou ela a gravar um vídeo dizendo que ele era inocente e a jogou ao chão, ameaçando acender um isqueiro.

Santos usava um capacete militar com a inscrição "inocente". Sua roupa também tinha dizeres como "fraude processual" escritos à mão. Segundo o Tribunal de Justiça, ele teria uma audiência com a magistrada naquele horário por processo a que responde sob acusação de agredir a ex-mulher.

Em rápido depoimento, afirmou que plantou bombas caseiras em pontos estratégicos do fórum por causa do processo. "Perdi a guarda do meu filho por causa da juíza", disse, segundo a polícia.

Santos tinha passagens anteriores pela polícia por crimes de menor potencial ofensivo. Foi encaminhado a um hospital para passar por avaliação psiquiátrica. A juíza também seguiu para um hospital com escoriações nas pernas e passa bem. A polícia diz que ele não chegou a atear fogo na vítima.

O fórum ficou fechado o resto do dia para a varredura da Polícia Militar.

REPERCUSSÃO

O Tribunal de Justiça de São Paulo afirma que prioriza ao máximo a segurança em seus prédios e a de seus frequentadores, e que "se constatadas falhas, medidas corretivas serão tomadas de imediato".

Nesta quinta-feira (31), o presidente do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski publicou nota em que diz que o caso é "motivo da mais profunda consternação por parte do Poder Judiciário brasileiro, uma vez que expõe de maneira explícita e cruel a intolerância e a brutalidade que, seguramente, não fazem parte da cultura e das tradições do nosso povo".

O ministro aponta ainda que casos de violência contra magistrados são frequentes no país.

"Infelizmente, episódios como o ocorrido em uma das maiores capitais do planeta têm se repetido com maior ou menor gravidade nos quatro cantos do Brasil".


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