Folha de S. Paulo


Avião de Agnelli não tinha autorização para voar sobre áreas povoadas

A aeronave que caiu na zona norte de São Paulo no último sábado (19) não tinha autorização para voar sobre áreas densamente povoadas por ser experimental.

O acidente, nas proximidades do Campo de Marte, matou sete pessoas —o piloto e seis passageiros, entre os quais o executivo Roger Agnelli, ex-presidente da Vale. O avião bateu em um sobrado e explodiu.

De acordo com nota da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) o modelo CA-9, de propriedade de Roger Agnelli, por ser experimental, deveria ter uma autorização específica para voar sobre metrópoles como São Paulo.

Caso Agnelli solicitasse, ele poderia pedir a autorização para trafegar sobre a cidade, mas não o fez.

A aeronave, também por ser experimental, não tinha obrigatoriedade de ter caixa preta. No país, só há outra aeronave deste mesmo tipo.

Editoria de arte/Folhapress

EXPERIÊNCIA

No Brasil, de 21.789 aeronaves registradas, 5.158 são experimentais. "Do ponto de vista material, uma aeronave certificada difere de uma aeronave experimental porque passa por um processo rigoroso de avaliação de projeto, testes de equipamentos e ensaios em voo que explora as condições mais extremas de operação e demonstra o cumprimento com requisitos técnicos internacionalmente estabelecidos", afirma nota da Anac.

A agência afirma que atesta qualidade das aeronaves certificadas, enquanto as experimentais são de responsabilidade "do engenheiro aeronáutico que a projetou, do seu proprietário e/ou piloto".

"Aeronaves experimentais são restringidas a voar sobre áreas pouco povoadas, ou em alguns casos específicos, a áreas completamente isoladas, exceto com autorização específica. O voo sobre áreas densamente povoadas necessita de autorização específica e o transporte de pessoas e bens com fins lucrativos é proibido", diz a Anac.

Devido às restrições, afirma a agência, esse tipo de avião costuma ser utilizado para lazer, demonstração ou desenvolvimento de tecnologias.

De acordo com a Anac, o comandante Paulo Roberto Baú, que também morreu no acidente, estava com licença válida para a pilotar o avião do tipo.

EMERGÊNCIA

O avião não declarou emergência ao controle de tráfego aéreo do Campo de Marte.

É praxe que aviões com panes em momentos críticos, como a decolagem, declarem emergência, de modo que o controle de tráfego aéreo o auxilie -seja apenas para tomar ciência das intenções do piloto, seja ao deixar de prontidão as equipes de socorro ou checar pistas de pouso alternativas.

Nesse caso, a ausência de pedido de socorro indica uma queda súbita e que o piloto não teve tempo de informar o controle de tráfego aéreo. Único tripulante a bordo do turbo-hélice Compair CA-9, ele possivelmente se ocupava dos comandos necessários para manter o avião voando.

O avião, um modelo experimental Compair CA-9, decolou às 15h20 e caiu momentos depois sobre um imóvel do Jardim São Bento, bairro residencial de alto padrão.

Como a Folha revelou nesta segunda (21), uma testemunha declarou à Aeronáutica que o avião fez dois estrondos semelhantes a uma explosão, um indício de pane no motor. A peça foi recolhida pelos investigadores entre os destroços no domingo (20).


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