Folha de S. Paulo


Queda de avião em São Paulo mata ex-presidente da Vale e mais 6 pessoas

Um avião monomotor com sete pessoas a bordo caiu em cima de uma casa, na rua Frei Machado, no Jardim São Bento, zona norte de São Paulo, na tarde deste sábado (19). Entre as vítimas, está Roger Agnelli, ex-presidente da Vale.

Andrea, Anna Carolina e João —mulher e filhos de Agnelli, respectivamente— também morreram no acidente. As outras vítimas são: Parris Bittencourt, genro do executivo, o piloto do avião, Paulo Roberto Baú, 33, e a namorada do filho de Agnelli —ainda não identificada.

O executivo, 56, presidiu a empresa entre 2001 e 2011. Ele era considerado responsável pela ascensão da Vale ao posto de uma das maiores mineradoras do mundo.

Paulistano, fez carreira no Bradesco, onde trabalhou por mais de duas décadas. Formado em economia pela Faap, transformou-se em um dos principais executivos do banco, chegando ao posto de diretor-executivo. Em 2012, criou a AGN, empresa com negócios nas áreas de mineração, bioenergia e logística.

A aeronave estava cheia de combustível e explodiu ao bater na casa após decolar do Campo de Marte rumo ao Santos Dumont, no Rio.

Os cinco moradores da casa atingida —dois casais e uma criança de cinco anos— saíram correndo pelos fundos do imóvel e não sofreram ferimentos graves.

REPERCUSSÃO

A Vale emitiu uma nota neste domingo (20) em que lamenta a morte do executivo e diz que a empresa e seus funcionários "se solidarizam com a dor dos familiares e amigos".

O texto acrescenta que no período de Agnelli na presidência "a companhia se consolidou como a maior produtora global de minério de ferro e a segunda maior mineradora do mundo."

"Foi durante sua gestão que a Vale intensificou sua estratégia de expansão global, que levou a Vale a um novo patamar no mercado global de mineração", concluiu a empresa.

Também neste domingo, a presidente Dilma disse, por meio de nota, que recebeu a notícia com "grande pesar" e ressaltou que o empresário "sempre foi comprometido com o desenvolvimento do país".

SITUAÇÃO REGULAR

Segundo a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), o avião modelo CA-9, prefixo PR-ZRA, é de Roger Agnelli e estava em situação regular.

O acidente aconteceu por volta das 15h20. A Aeronáutica foi ao local para colher as primeiras informações.

"Os corpos achados estavam dentro da fuselagem [do avião], muito prejudicados. Talvez com trabalho de perícia se consiga identificar [as vítimas]", disse o major Hengel Ricardo Pereira. Para se certificar que eram sete os corpos, a equipe contou o número de crânios, afirmou.

"Vi o avião decolando e deu para perceber que ele estava mais baixo do que o normal. Aí ele perdeu altura e bateu na casa", disse Toni Sargologos, 46, que trabalha com construção civil.

O local do acidente fica a menos de 200 metros do aeroporto Campo de Marte, que opera com aviação geral, executiva e escolas de pilotagem.

Editoria de arte/Folhapress

Depois da queda, a aeronave explodiu. A casa, um sobrado de três andares, ficou carbonizada, assim como um carro que estava perto do local, mas não está condenada, segundo a Defesa Civil. O imóvel ficará interditado.

Um vizinho ajudou no resgate de três moradores.

"Eu estava dormindo. Acordei com um barulho. Fui pro quintal e vi o pessoal gritando, aí subi na escada e vi a casa vizinha atingida pelo avião", diz Ciraco Portela Neto, 60.

Ainda de acordo com ele, uma das mulheres gritava, pedindo que salvasse o seu filho. Portela Neto conseguiu então resgatar a criança e ajudou as duas mulheres a sair da casa atingida pelo avião.

OUTROS ACIDENTES

O aeroporto Campo de Marte, na zona norte, já foi palco de ao menos outros quatro graves acidentes aéreos com vítimas desde a década de 1980.

A última grande tragédia no aeroporto ocorreu em 4 de novembro de 2007, quando um jato Learjet que havia acabado de decolar em direção ao Rio perdeu altitude e caiu em cima de casas na rua Bernardino de Sena, no bairro da Casa Verde. Estavam a bordo da aeronave o piloto e copiloto, que morreram no local.

Outras seis pessoas da mesma família, entre as quais um bebê, morreram. Elas moravam na rua do acidente.

Duas vítimas ficaram feridas, sendo que uma delas teve 30% do corpo queimado. O jato, para dez pessoas, pertencia à Reali Táxi Aéreo.

Em 24 de novembro de 1995, após deixar o Campo de Marte, um avião Cessna caiu sobre dois carros e explodiu na avenida Santos Dumont, também na zona norte.

O piloto e cinco passageiros morreram. Três pessoas que estavam nos carros ficaram feridas. A aeronave ia para Sorocaba e, segundo funcionários do aeroporto, seu motor parou de funcionar logo depois da decolagem.

Em 17 de janeiro de 1984, um bimotor de uma empresa de taxi-aéreo decolou do aeroporto e despencou sobre três casas na rua Genésio Pereira, no bairro do Carandiru.

Morreram no acidente os seis ocupantes do avião e um pedreiro que trabalhava em uma das casas atingidas. Três moradores da região ficaram feridos com gravidade.

Segundo as apurações, a queda foi causada pela rachadura da pá de uma das hélices do avião. O bimotor ia para Porto Velho (RO), mas faria escala em São José do Rio Preto, no interior paulista.

O Campo de Marte tem ainda histórico de acidentes com helicópteros. O último com gravidade aconteceu em 25 de outubro de 2003, quando um helicóptero que havia decolado do Campo de Marte caiu durante a realização de manobra de treinamento.

A aeronave bateu na pista, pegou fogo, arrastou-se por 40 metros e explodiu. Os dois ocupantes foram retirados com vida, mas o instrutor morreu dias depois.

Colaboraram GUILHERME CELESTINO e ESTÊVÃO BERTONI


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