Folha de S. Paulo


Após chuvas, moradores de Francisco Morato têm medo e decidem se mudar

"Diz que vai vir um tal de geólogo aí, mas até agora nada", dizia a dona de casa Josilene da Silva, 35, na tarde deste sábado (12) em uma roda de moradores do Jardim Silvia, em Francisco Morato, na Grande São Paulo. O município está entre as áreas castigadas pelas fortes chuvas desta semana.

"Pedi para um pessoal da prefeitura que veio aqui olhar minha casa, mas disseram que eu podia ficar tranquila, mesmo sem analisarem nada", acrescenta a dona de casa. "Se eles fossem lá atrás de casa iam ver que já tá tudo rachado".

Ela mora a poucas casas do barranco que deslizou e matou três pessoas na noite de quinta-feira (10). Na vizinhança, a falta de informação sobre a segurança já faz com que muitos comecem a abandonar suas casas.

A tragédia vista do alto

A atendente de telemarketing Aline Ramos, 26, já deixou o sobrado alugado em que morava com a mãe e os três filhos. A casa que acabou destruída pelo deslizamento era vizinha da dela.

"Se der outra a chuva, olha as nuvens, vai deslizar tudo", diz olhando para o alto do barranco, onde uma casa parece pronta para cair a qualquer momento. "Não vou colocar a vida dos meus filhos em risco."

Uma tia dela, que mora em uma casa interditada, recebeu apenas a orientação de procurar a prefeitura na próxima segunda-feira (14).

Morador do local há 32 anos, o eletricista Cícero Firmino da Silva, 62, diz que também decidiu sair. "Minha casa está condenada", diz. "Agora, eu pago imposto. IPTU, esgoto, até luz fluorescente da rua. E agora não aparece ninguém aqui, nenhum lugar para eu ir?"

Arlindo José Lima tomou a mesma decisão : procurar um novo lar. "Não dá mais. Todo ano é a mesma coisa e nunca temos ajuda da prefeitura. Está cheio de terra no meu muro. Mesmo os terrenos ao lado de casa que cederam com a chuva sou eu que mantenho limpo", desabafava ele neste sábado (12), enquanto pedia ajuda dos vizinhos para retirar sua geladeira de casa.

VISITA

Neste sábado (12), a presidente Dilma Rousseff sobrevoou áreas atingidas pelas cheias, entre elas as da cidade de Francisco Morato. Após ver os estragos, ela anunciou a liberação de recursos para prefeituras. "A partir do reconhecimento do estado de emergência, liberamos um cartão para o prefeito fazer os pagamentos menores, mediante comprovação."

Dilma sobrevoa Grande SP


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