Folha de S. Paulo


Vacas usadas em estudos científicos são transferidas após ondas de furtos

Os furtos constantes de vacas usadas em estudos científicos em uma fazenda do Estado em Ribeirão Preto irão levar à transferência dos 98 animais restantes para Nova Odessa (a 122 km de São Paulo), causando temor entre pesquisadores de que os trabalhos feitos com o gado no local cheguem ao fim.

Desde 2015, 34 vacas foram furtadas da área de 800 hectares (ou 1.120 campos de futebol do padrão da Fifa), que não possui cercas, câmeras nem vigilantes e fica hoje praticamente na área urbana. A maioria dos furtos ocorreu em fins de semana e feriados.

Por isso, o Estado acelerou a transferência dos animais da raça Jersey para a sede do Instituto de Zootecnia, em Nova Odessa –42 deles já estão no novo local. Por ser a única fazenda do Estado com rebanho de leite na região e desenvolver estudos em parceria com USP e Unesp, entre outras, pesquisadores receiam que os trabalhos fiquem prejudicados ou mesmo acabem em Ribeirão.

"Alegaram que a transferência ocorre para reduzir despesas, mas não é só isso. Receamos que a ideia seja liberar a área para venda ou arrendamento", disse o presidente da Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado, Joaquim Azevedo Filho.

A transferência é alvo de queixas do Sindicato Rural de Ribeirão e da USP, que já enviaram pedidos à Secretaria de Estado da Agricultura para a manutenção do gado e das pesquisas na cidade. Sem as vacas, o custo de qualquer pesquisa que envolva os animais subirá muito, pois será preciso desenvolvê-la em parceria. Ribeirão fica a 200 km de Nova Odessa.

VITAMINADA

Entre os estudos produzidos na fazenda de Ribeirão está o da "vaca vitaminada", que produz leite enriquecido com selênio, óleo de girassol e vitamina E. Docente da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP, Hélio Vannucchi –que participou do estudo– afirmou lamentar a transferência dos animais.

A Apta (agência de tecnologia dos agronegócios), da secretaria da Agricultura, informou que as vacas estão sendo transferidas para centralizar as pesquisas com gado de leite em Nova Odessa.

Ainda de acordo com o Estado, a frequência dos furtos fez com que a mudança fosse antecipada e, para manter os animais em Ribeirão Preto, seria preciso ter vigilância armada e ronda motorizada, além de cercas e alambrados, mas o custo para implantar e manter toda essa estrutura é muito elevado.

O investimento para adequar a unidade de Nova Odessa será de R$ 170 mil, inferior aos R$ 300 mil estimados pela associação de pesquisadores para cercar a fazenda onde o gado está hoje. O Estado informou que parcerias com universidades e outras instituições poderão ser firmadas, com o rebanho na unidade


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