Folha de S. Paulo


Em bairro residencial da zona sul, sobrados disputarão espaço com lojas

Em um sobrado da avenida Ceci, no Planalto Paulista, zona sul de São Paulo, o comerciante Nicolau Rabay, 55, espera pelo dia em que poderá regularizar sua loja de telefonia, no bairro há 18 anos.

Tradicionalmente residencial, a região de pouco comércio deve mudar com a nova lei de zoneamento, aprovada pela Câmara Municipal nesta quinta (25).

De acordo com a proposta, a avenida Ceci deve virar um corredor comercial. "Eu trabalho com celular e a tecnologia mudou muito. O bairro também precisa mudar", afirma o lojista.

Mas nem todos no bairro são favoráveis à mudança. "Aqui é residencial, tem que manter essa característica ou vai virar um Itaim Bibi", diz Marisa Nakaozi. Ela acredita que o local já tem infraestrutura suficiente, mas precisa ir para outros bairros quando procura por lazer.

Marcus Leoni/Folhapress
Cartaz em sobrado no Planalto Paulista, zona sul de São Paulo, critica mudanças da nova lei de zoneamento
Cartaz em sobrado no Planalto Paulista, zona sul de SP, critica mudanças da nova lei de zoneamento

No cruzamento entre as avenidas Ceci e Afonso Mariano Fagundes, os moradores encontram poucas lojas. A partir daí, as ruas se tornam uma sucessão de sobrados, alguns deles ostentando placas que refutam a nova lei.

Em uma dessas casas mora Antônio Gutierrez, opositor das mudanças.

"Eu acho que alguns bairros deviam ter densidade baixa, como esse. O zoneamento é prejudicial, porque aumenta o movimento", diz ele.

Para a advogada Angela Kayatt, as pessoas que se opõem às mudanças têm "cabeça fechada". "Nós precisamos ter coisas perto de casa. Aqui nós só temos um mercado, então eles cobram o que querem", desabafa.

De acordo com ela, um dos problemas no bairro é a prostituição. "Aqui existem muitas casas grandes à venda. Como não têm iluminação, servem como ponto de prostituição".

NOVA LEI

Com 45 votos favoráveis e oito contrários, os vereadores aprovaram em definitivo a nova lei de zoneamento da cidade. O texto determina o que pode ser construído e que tipo de atividade pode existir em cada rua da cidade.

Se for sancionado pelo prefeito Fernando Haddad (PT), a cidade passará a ter mais áreas mistas (que juntam residência e comércio), prédios mais altos nas grandes avenidas com estrutura de transporte e mais terrenos voltados à construção de moradias para a população de baixa renda —previstas inclusive em áreas verdes da cidade.

O projeto também prevê a liberação de templos religiosos em ruas estreitas da cidade, além de liberar os chamados puxadinhos na periferia – em lotes de até 250 metros quadrados que misturem residência e comércio, passam a ser permitidos imóveis de até três pisos (comércio no térreo e mais dois andares residenciais).

Lei de Zonamento - Entenda como funciona a nova lei de São Paulo, segundo a proposta


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