Folha de S. Paulo


Falta de diagnóstico preciso para zika dificulta registro de microcefalia

Ueslei Marcelino/Reuters
Mãe segura menina diagnosticada com microcefalia em PE
Mãe segura menina diagnosticada com microcefalia em PE

Após o diagnóstico da microcefalia, a confirmação da causa que pode ter levado à má-formação do cérebro do bebê é outro entrave no país.

Apesar do avanço nas pesquisas, ainda não há um teste rápido que permita confirmar a presença de anticorpos para o vírus da zika nas mães e bebês atingidos no início da gestação. Os testes disponíveis detectam o vírus apenas durante o quadro agudo da doença –quando a pessoa ainda tem os sintomas.

Diante do impasse, o Ministério da Saúde mudou a classificação dos casos neste mês e passou a confirmar não mais apenas os ligados ao zika mas todos que, em exames, possuem alterações "associadas a infecções congênitas" (de mãe para filho).

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A ideia nos próximos meses é comparar a frequência de casos ligados ao zika com os causados por infecções mais comuns, como citomegalovírus e toxoplasmose.

Até a última semana, 270 tinham essa confirmação, sem que fossem apontadas as causas. Destes, seis deram positivo para zika: bebês que morreram após o parto e fetos que tiveram amostras coletadas ainda na gestação.

Apesar do número baixo já confirmado para zika, o diretor do departamento de doenças transmissíveis do ministério, Cláudio Maierovitch, afirma ter evidências de que 90% destes casos estejam ligados ao vírus.

"Estamos fazendo pesquisas das outras causas, com resultados negativos. Se em algum momento se observar que outra causa começa a se tornar relevante, isso pode mudar o protocolo", disse.

Maierovitch atribui a diferença nos critérios adotados por alguns Estados a problemas de interpretação.

No início, alguns Estados acharam que só os que tinham circulação confirmada de zika –eram 14 na época, hoje são 21 e Distrito Federal– deveriam informar suspeitas de microcefalia. Outros entenderam que era preciso evidências da ligação com o vírus para registrar os casos.

"Alguns entenderam que o que não era vírus zika não interessava", disse.

A situação é mais difícil por se tratar de um quadro inédito, afirma. Ainda assim, para Maierovitch, os impasses não devem mudar a avaliação sobre o aumento de casos de microcefalia.

"Em uma 'piscina' de casos, pode ser que um 'balde' esteja errado. Isso não muda a interpretação do cenário epidemiológico", diz.

Segundo ele, o protocolo elaborado para guiar o registro e investigação dos casos suspeitos de microcefalia no país deve ter novos ajustes nas próximas semanas para melhorar os registros. "Em nenhum sistema de vigilância é possível chegar a perfeição. Por isso o aperfeiçoamento."

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DIFERENTES CRITÉRIOS
Mais de 32 cm
Mesmo após mudança de critério, feita em dezembro, dados enviados pelos Estados ainda abrangem casos acima do parâmetro da OMS para definir microcefalia

Outras infecções
Sem um teste rápido para confirmar casos de microcefalia relacionados ao vírus, ministério orienta confirmar todos aqueles com sinais de infecção congênita

Só zika
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Correções
Ao menos dez Estados já revisaram dados divulgados a cada semana. Amazonas, por exemplo, chegou a informar um caso de microcefalia, mas corrigiu a informação na semana seguinte

Microcefalia

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