Folha de S. Paulo


Após hostilizá-los, MPL anuncia que pediu encontro com Haddad e Alckmin

SP 462

Um dia depois de hostilizar o prefeito Fernando Haddad (PT) e o governador Geraldo Alckmin (PSDB), o MPL (Movimento Passe Livre) anunciou nesta terça-feira (26) ter protocolado um pedido de reunião com ambos para a próxima quinta (28).

A intenção é discutir o aumento das tarifas do transporte público em São Paulo e pressionar os governos a revogarem o reajuste, que no dia 9 de janeiro subiu de R$ 3,50 para R$ 3,80.

Os membros do Passe Livre querem que o debate ocorra na frente da Prefeitura de São Paulo, às 19h. Eles exigem que o diálogo seja feito na rua, "com todos os manifestantes".

Felipe Souza/Folhapress
Membros do Movimento Passe Livre em entrevista coletiva no sindicato dos jornalistas em São Paulo
Membros do Movimento Passe Livre em entrevista coletiva no sindicato dos jornalistas em São Paulo

Alckmin disse nesta terça que os manifestantes estão enganados. "Vejo que há um equívoco. Um equívoco de conteúdo e de forma. De conteúdo, porque o grande desafio é investimento. Estão equivocados. Só no caso do Estado, há um subsídio [para o transporte] de quase R$ 1 bilhão", afirmou o governador.

Ele voltou a dizer que o aumento da tarifa ocorreu devido à inflação e, principalmente, ao reajuste da energia elétrica. "A inflação foi 10,7% e o reajuste foi 8,5%. Ninguém protestou quando a inflação de energia elétrica passou de 70%, e metrô e trem são movidos por eletricidade", disse.

Na segunda (25), Haddad foi alvo de uma garrafa de plástico no momento em que o MPL protestava nos arredores da Catedral da Sé, logo após a missa em comemoração aos 462 anos da capital paulista. O Passe Livre nega que a agressão tenha partido de seus membros.

"A gente fez ontem um ato para lembrar o Alckmin e o Haddad que não tem aniversário de São Paulo. Tem uma tarifa de R$ 3,80. Mas em nenhum momento os membros do Passe Livre tentaram agredir o prefeito", disse Rafael Siqueira, 40, integrante do MPL.

TRAJETO

Os manifestantes também ressaltaram que não vão antecipar o trajeto da manifestação prevista para começar às 17h desta terça na frente da estação da Luz, no centro. Eles dizem que a Secretaria da Segurança Pública usa argumentos mentirosos para forçar os manifestantes a divulgarem o caminho da passeata com antecedência.

De acordo com a Constituição, todo protesto deve ser precedido de um aviso por parte dos manifestantes. O artigo 5º, inciso XVI, afirma: "todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente".

"A Constituição não prevê a divulgação do trajeto. Ela prevê apenas uma notificação prévia de que a manifestação vai acontecer. A partir do momento em que o Passe Livre divulga publicamente a manifestação ele já está cumprindo esse aviso prévio", afirmou Luisa Cytrynowics, 20, uma das porta-vozes do movimento.

Para o jurista Ives Gandra Martins, é incorreta a interpretação do Passe Livre, pois desconsidera o inciso XV, também do artigo 5º da Constituição, que diz: "É livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens".

Martins diz que a leitura da Constituição deve ser feita de forma integrada e que a parcial não tem efeito nenhum.

"Tem que divulgar o trajeto para não prejudicar o inciso XV e evitar que 10 mil pessoas prejudiquem 12 milhões. Se o Passe Livre divulgar o trajeto na hora, não é possível montar um esquema para evitar que as pessoas fiquem presas na avenida Paulista", afirmou.

A Secretaria da Segurança informou às 15h48 que o Passe Livre deverá fazer o seguinte trajeto na manifestação desta terça: sair da estação da Luz, passar pela rua Casper Líbero, avenida Ipiranga, avenida São Luiz, viaduto Maria Paula e seguir pela avenida Brigadeiro Luís Antônio até chegar à Alesp (Assembleia Legislativa).

Esse foi o destino anunciado pelo MPL no último ato, que ocorreu na quinta-feira (21), mas foi impedido pela Polícia Militar sob o argumento de que já havia uma outra manifestação no trajeto proposto pelo Passe Livre.

Cytrynowics afirmou que quem descumpre a Constituição é a Secretaria da Segurança por impedir os manifestantes de prosseguirem por onde desejam. "O trajeto é uma decisão política dos manifestantes e a gente acha um absurdo a polícia tentar tomar isso da gente. Isso mostra como a polícia reprime sempre e usou esse argumento do trajeto como mais uma desculpa para agir com repressão", disse a militante Letícia Cardoso, 20.


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