Apesar de São Paulo ser conhecida pelos arranha-céus e grande concentração de asfalto e concreto, há também ilhas verdes espalhadas pela cidade, que ajudam o paulistano a entrar em contato com a natureza.
Além dos diversos parques públicos, existem ainda cantinhos especiais, fruto do trabalho de moradores da capital paulista. Eles dedicam seu tempo, espaço e até mesmo dinheiro para cultivar hortas comunitárias, plantar novas árvores e manter praças.
Conheça abaixo a história de quatro paulistanos, das quatro regiões da cidade, que participam de iniciativas verdes.
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ILHA VERDE
"Aqui é de quem chega, então agora é de vocês também", diz a astróloga Carmen Sampaio à Folha. "Aqui" é o Hortão da Casa Verde, um espaço com cultivo de batatas, bananeiras, inhame, milho e outras plantas, muitas plantas.
O local pertence a uma empresa privada e foi cedida em comodato em 2010 aos voluntários que quiseram limpá-lo, retirando dali o entulho que havia. Por isso, diz Carmen, a porta fica fechada, mas "é só ligar para mim ou outra pessoa que tenha a chave que abrimos para qualquer um".
Vizinhos aparecem, e até gente do interior do Estado, conta. A ideia de começar uma horta em meio ao concreto do bairro na zona norte, diz ela, "não foi planejada, foi instinto de sobrevivência". É como um pequeno sítio ou então "uma ilha verde, casa para os pássaros, borboletas, rãs, pererecas e sapos".
Não há tanta organização em relação ao cuidado do verde vibrante –"vem cada um no seu tempo, não somos uma empresa, o lugar se autoorganiza", afirma. Quem rega as plantas? "A natureza."
Em alguns sábados, há feiras de trocas, você leva um livro e pode sair com um brinquedo. Há uma cozinha, cuja pia foi encontrada em um ferro velho e um ambiente com paredes construídas pelos voluntários com barro, cimento e garrafas que a decoram.
Nesta sexta (22), a jornalista Mariana Martires, 44, descansava em uma rede com o filho Rocco, 7. "Moro em um apartamento de 60m2. Queria dar uma desanuviada", diz.
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TRABALHO INVISÍVEL
A cerejeira que a bióloga Eiko Sugiyama, 67, plantou na praça Harmonia dos Sentidos, no Sumarezinho (zona oeste), em 2008, já tem cerca de três metros. O banco com mosaicos quem fez foi ela. O mural também.
Eiko, uma professora aposentada, gasta R$ 50 mensais e passa uma hora por dia na praça que fez praticamente sozinha, cuidando das plantas ornamentais e outras como cúrcuma, gengibre, babosa. Ela divide seu tempo com o cuidado dos netos, cinema (diz assistir 100 filmes por ano) e o tango.
"Melhorar a comunidade melhora a cidade, melhora o mundo. Não quero nada em troca, é um trabalho invisível e voluntário", diz.
"As pessoas esperam muito da prefeitura, mas às vezes as demandas são microscópicas. Se cai um parafuso, qualquer pessoa pode comprar", diz ela, que é oficialmente uma adotante da praça –há um programa de adoção de praças da prefeitura.
Além desta, Eiko ajudou vizinhos a construírem um parquinho na praça Rafael Sapienza, também no Sumarezinho.
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HORTA EDUCACIONAL
A filha de Sergio Shigeeda, 56, foi assaltada em frente a um terreno abandonado, cheio de lixo, no fim da rua onde vivem, na Saúde (zona sul). Em 2013, ele e outros moradores decidiram construir lá uma horta comunitária. A prefeitura cedeu o espaço.
Cerca de 200 pessoas têm a chave, diz Shigeeda, que é engenheiro de software. "É uma terapia e também é educacional, um espaço de compartilhamento de informação."
Para ele, há também o interesse em querer "ter longevidade". Ele alia a manutenção da horta, de onde colhe alimentos saudáveis e estimula o seu consumo, à corrida (de 5 km a 10 km três vezes por semana) e o futebol (sempre aos sábados).
O cuidado com a horta é compartilhado –cerca de 20 pessoas se revezam para mantê-la viva.
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DE OLHO NOS CANTEIROS
O advogado Danilo Bifone, 40, caminha olhando para as calçadas, onde canteiros podem abrigar árvores. Com ferramentas e sementes doadas, ele e outros voluntários do Muda Mooca começaram a plantar mudinhas de árvores no bairro da zona leste há cerca de três anos.
Depois, expandiram o trabalho para outras regiões. "Quem quiser, pode vir plantar conosco, para aprender a plantar e replicar isso pela cidade", convida Bifone.
Os mutirões nos finais de semana reúnem de 10 a 15 pessoas que, depois de fazer o plantio, varrem toda a terra da rua, como se ninguém tivesse passado por lá.