Folha de S. Paulo


Museu de arte popular no Rio fica inundado após chuvas

Maior acervo de arte popular do país, o Museu Casa do Pontal, no Rio, ficou inundado após as chuvas que castigaram a cidade na madrugada de sábado (16). A casa de dois andares e seus jardins foram invadidos pela água. Apesar do susto, nenhuma obra foi perdida.

Segundo Angela Mascelani, diretora do museu, a construção de um bairro planejado perto do prédio deixou o terreno da região exposto a alagamentos. Trata-se do Pontal Oceânico, que receberá parte da imprensa na Olimpíada.

Chuva alaga Museu do Pontal, no Rio

"Esta é uma área alagadiça, com canais feitos na década de 1940. Nunca alagamos por causa dos canais. Então vem um projeto que mexe no solo, altera os canais e que fica um metro acima do terreno do museu", disse ela.

O impacto das obras na região foi avaliado por um estudo da Coppe/UFRJ há mais de dois anos. O laudo técnico concluiu que, com o empreendimento, a região teria enchentes se ocorressem simultaneamente uma grande tempestade e maré cheia.

Reprodução
Obra dos Gêmeos em área alagada do Museu do Pontal, no Rio de Janeiro
Obra "O Bunker", da dupla Osgemeos, em área alagada do Museu do Pontal, no Rio de Janeiro

"Não foi nem preciso uma chuva tão forte assim. A gerente do museu disse que foi um pé d'água, de uma vez só", disse Angela.

O Museu Casa do Pontal tem um acervo de 8.500 peças de 200 artistas brasileiros, produzidas a partir do século 20. Essa coleção, tomada pela Prefeitura do Rio como referência cultural, é a maior de arte popular do país.

O espaço foi criado pelo francês Jacques van de Beuque (1922-2000) há mais de 35 anos. Ele se encantou com os bonecos de barro do pernambucano Mestre Vitalino (1909-1963), o que deu início à coleção de arte.

Para impedir que obras fossem perdidas, funcionários do museu levaram as peças para o segundo andar da casa. Um bomba foi usada para acelerar a retirada da água. Os prejuízos provocados pelas chuvas serão calculados ao longo desta semana.

Nos jardins do museu, a obra "O Bunker" da dupla de arte urbana Osgemeos ficou ilhada. Funcionários do museu colocaram sacos de areia para evitar que a água entrasse dentro da cápsula de quase 20 toneladas.

"A obra está acima do solo e, mesmo assim, a água chegou quase na porta. Todo mundo correu para socorrer", disse a diretora.

Segundo ela, o alagamento foi uma demonstração clara de que o acervo está ameaçado. Ela defende que o museu seja transferido para um novo espaço mais seguro antes da "próxima chuva".

Em abril de 2015, a Prefeitura do Rio fez a cessão de um terreno na Barra da Tijuca, zona oeste, para receber o museu. O projeto arquitetônico está pronto, mas as obras, que custariam R$ 11 milhões na primeira fase, não começaram.

"O acervo já poderia ser transferido com a primeira fase do projeto, com dez meses de obra", disse a diretora, acrescentado que as obras seriam feitas pelas empreiteiras do consórcio. "Para que isso finalmente aconteça falta apenas uma decisão da prefeitura".

O Museu ficará fechado ao público por uma semana para a recuperação dos danos causados pela inundação. Sã cerca de 40 mil visitantes por ano, sem contar visitas escolares.


Endereço da página:

Links no texto: