Folha de S. Paulo


Atingidos na tragédia de Mariana celebram missa pelas vítimas

"Parece que elas estão se despedindo de Bento Rodrigues", disse a funcionária pública municipal Maria das Graças Quintão após a missa de confraternização de vítimas da tragédia de Mariana (MG) realizada pela Arquidiocese de Mariana na noite desta quarta-feira (23).

Como Maria, que morava no distrito de Mariana (MG) destruído pelo "tsunami" de rejeitos de minério no dia 5 de novembro, outras 500 pessoas participaram do ato. A celebração especial contou com a participação de sete religiosos –incluindo o arcebispo de Mariana, dom Geraldo Lyrio Rocha, e outros dois padres de Bento Rodrigues.

Segundo a servidora, a cerimônia foi um momento de relembrar histórias e rever amigos. "Chorei muito durante a missa porque Bento era um lugar de muitas festividades religiosas e, durante este ano, parece que as pessoas aproveitaram mais essas festas", disse ela.

Para o aposentado João Francisco Tavares, de Paracatu de Cima, o momento foi importante para estar junto e celebrar com as vítimas. "Achei muito bonita a missa e tive a oportunidade de ver pessoas que não via desde a tragédia. Perdemos tudo que tínhamos, mas não perdemos a nossa fé em Deus", afirmou.

Uma das piores tragédias ambientais do país, o rompimento da barragem do Fundão –propriedade da mineradora Samarco, controlada pela brasileira Vale e pela anglo-australiana BHP– causou pelo menos 17 mortes. Há ainda dois desaparecidos.

Para dom Geraldo, a iniciativa teve como objetivo a reaproximação dessas pessoas e a consolidação de valores como fé, solidariedade, defesa da vida e dos direitos humanos.

Já o padre de Bento Rodrigues Armando Godinho disse que a missa foi importante para restabelecer e fortalecer as comunidades atingidas. "Essas pessoas não perderam apenas seus bens materiais, elas perderam sua identidade, agora é necessário construir outra. É por isso que iniciativas como essas são tão importantes para elas."

AÇÕES EM FAVOR DOS ATINGIDOS

Durante reunião na última terça-feira (22), os representantes das dioceses da Bacia do Rio Doce, Mariana, Itabira, Coronel Fabriciano, Governador Valadares (todas cidades mineiras) e Colatina (ES), discutiram ações favoráveis às populações atingidas dos dois Estados, além de medidas de recuperação ambiental na Bacia do Rio Doce.

Segundo o coordenador de Pastoral da Arquidiocese de Mariana, padre Geraldo Martins Dias, as dioceses querem cadastrar todos os atingidos. Os representantes também debateram as propostas do código de mineração e de um marco regulatório para garantir os direitos dessas populações.

Avener Prado/Folhapress
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