Folha de S. Paulo


Crianças e adolescentes dançam em cima de cadeiras de rodas no Rio

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Vitória de Deus Leite, 10, dança "desde sempre". Seu ritmo predileto é o samba.

"É agitado, eu sou agitada." No seu último aniversário, deu uma festa com o tema de gafieira. Também gosta de fazer a dança da laranja, onde um par dança segurando a fruta entre as testas.

Mas ela não mexe as pernas –anda de cadeira de rodas. Vitória tem mielomeningocele, também conhecida como espinha bífida, defeito congênito em que a espinha dorsal e o canal espinhal não se fecham antes do nascimento.

Todo sábado, a menina viaja cerca de 20 km de Acari, na zona norte do Rio, até uma escola de dança na Tijuca, também na zona norte, para treinar os movimentos de tango, forró, bolero, samba e hip-hop.

"Quando ela começou a se entender, por volta dos três anos de idade, ficava tímida de ter as pessoas sempre olhando para ela. Mas desabrochou, virou uma verdadeira sem-vergonha", diz a mãe, Sirlene de Deus Barbosa, 37.

Vitória e outras 11 crianças e adolescentes fazem parte do grupo Carioca Sobre Rodas. O projeto foi criado pela pentacampeã brasileira de dança esportiva em cadeira de rodas Viviane Macedo, 38, para identificar talentos e trazê-los para o esporte.

"Por não ser reconhecido como um esporte paralímpico, acaba que as pessoas sabem muito pouco sobre ele. Quero que essas crianças participem dos campeonatos quando crescerem", afirma a pentacampeã.

Macedo chegou a participar de competições internacionais da modalidade –em 2008, em Belarus, e em 2010, na Alemanha. Na primeira, ficou entre as 26 atletas mais bem colocadas; na segunda, entre as 20. Anda de muletas por causa de uma poliomielite que teve na infância, mas só dança na cadeira.

TERAPÊUTICO

Na dança em cadeira de rodas, os dançarinos usam o tronco, os braços e a cabeça para se expressar. Os mais habilidosos equilibram a cadeira sobre uma roda ou empinam a do parceiro.

Às vezes dois cadeirantes dançam em pares. Em outros casos, como em competições, um andante faz par com um cadeirante. Macedo diz que a dança é um objetivo em si mesmo, mas as aulas também têm um aspecto terapêutico.

"Num centro de reabilitação, os movimentos que os cadeirantes fazem são bem mais conservadores do que na dança. Muitas vezes as crianças aqui descobrem que são capazes de fazer movimentos que não sabiam que podiam", diz a dançarina.

A presidente da Associação Brasileira de Fisioterapia, Denise Flávio, avaliza a percepção de Macedo. "Assim como outros esportes, a dança oferece ao cadeirante uma nova fronteira de limites do que ele pode ou não fazer. Esse limite varia de pessoa para pessoa", afirma.

AUTOCONFIANÇA

"Além de dançar, queremos que as crianças aprendam também a se colocar no mundo. A dança dá base para autoconfiança, ajuda a desenvolver atitude", diz Viviane Macedo.

A CBDCR (Confederação Brasileira de Dança em Cadeira de Rodas) estima que há cerca de 40 grupos como esse pelo país.

O site da entidade lista escolas filiadas em oito Estados –Minas Gerais, São Paulo, Sergipe, Pernambuco, Rio de Janeiro, Pará, Rio Grande do Sul e Paraíba.
Algumas cobram mensalidade dos participantes. O grupo Carioca Sobre Rodas é gratuito, pois recebe patrocínio.


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