Folha de S. Paulo


Programa une empresas e setor público na gestão de municípios

Por 20 anos, Campinas (SP) fechou suas contas no vermelho. Em 2013, sem qualquer aumento de impostos, medidas de racionalização da gestão pública fizeram com que a cidade chegasse ao fim do ano com um saldo positivo de R$ 257 milhões.

Naquele ano, o país ainda registrava crescimento econômico. Para o município de Paraty (RJ), contudo, a redução na distribuição de royalties do petróleo ameaçava levar a cidade a um deficit.

Fotomontagem
Unidade Básica de Saúde de Bom Jesus, em Pelotas (RS), antes de sua reforma; em jan.2015, novo posto foi inaugurado após ação do projeto Juntos pelo Desenvolvimento Sustentável
Unidade de Saúde de Pelotas (RS), antes da reforma; em jan.2015, novo posto inaugurado após projeto

O equilíbrio financeiro foi garantido por uma força-tarefa para cobrar IPTU de imóveis que não estavam corretamente cadastrados e, portanto, não recolhiam imposto.

Em 2015, já em meio a uma grave crise nacional, a Prefeitura de Santos anunciou economia de R$ 37 milhões e aumento da arrecadação superior a R$ 87 milhões.

Campinas, Paraty e Santos são cidades de dimensões e populações muito distintas, com bases econômicas diversas e comandadas por prefeitos de três partidos diferentes.

EQUILÍBRIO FISCAL

Como explicar esses bons resultados? Todas elas integram o Juntos pelo Desenvolvimento Sustentável, um programa de melhoria da gestão pública que aposta na união entre sociedade civil, iniciativa privada e setor público.

O "pilar zero" exigido pelo programa é justamente o equilíbrio fiscal, obtido com o auxílio de grandes consultorias contratadas pelo projeto. É preciso garantir também transparência às contas públicas municipais.

A etapa seguinte é investir em temas prioritários, como educação, saúde e saneamento, diz Ricardo Villela Marino, vice-presidente do Itaú Unibanco para a América Latina e integrante do núcleo de governança do Juntos.

Campinas, a primeira cidade escolhida, já implementou ensino integral em sete escolas públicas e padronizou os atendimentos na rede de saúde, diminuindo o tempo de espera e criando protocolos para triagem de pacientes.

"Não há muito segredo, o essencial é saúde e educação. Ao lado da prefeitura, definimos as metas e os processos para cumpri-las", diz Wilson Ferreira Júnior, presidente da CPFL Energia e responsável por acompanhar as ações do Juntos no município.

Infográfico: Juntos pelo Desenvolvimento Sustentável

SANEAMENTO

No saneamento básico, a cidade de Paraty tem colhido bons resultados. Sem rede de tratamento de água e esgoto até dois anos atrás, hoje oferece os serviços em quase 80% do município.

"Uma cidade situada entre o Rio de Janeiro e São Paulo, turística, cercada de água, mas que não cuidava de nada. Já se nota diminuição das doenças causadas por água não tratada", observa José Roberto Marinho, vice-presidente do Grupo Globo e membro da governança do Juntos que apadrinha Paraty.

Com a iniciativa, criada em 2012 e hoje presente em 12 cidades, os municípios implementam conceitos da iniciativa privada na gestão pública.

Planejamento estratégico é um deles. Em Santos, a prefeitura começa a desenvolver plano com objetivos e diretrizes para o distante ano de 2046, quando a cidade do litoral paulista completará cinco séculos de existência.

Para Rubens Ometto, controlador do grupo Cosan e padrinho do Juntos em Santos, "o ponto forte é justamente a transferência da experiência de gestão do empresariado para um trabalho que fica muito perto da população".

NOVA VISÃO

Após a experiência acompanhando a implementação da parceria em Juiz de Fora (MG), o empresário José Ermírio de Moraes Neto, membro do conselho de administração da Votorantim Participações, diz ter mudado completamente de visão sobre o funcionalismo público.

"Foi uma grande surpresa ver o compromisso de boa parte do secretariado, composta de funcionários de carreira, com as metas estabelecidas, que envolviam cortar a folha de pagamento e bonificações indevidas", afirma.

Para os líderes empresariais, que participam diretamente de reuniões com os prefeitos, o desafio agora é replicar essas experiências bem-sucedidas. "Já temos marolas nas cidades, mas queremos chegar a um tsunami de gestão nos Estados e no país", conta Villela Marino.

Regina Esteves, presidente da Comunitas, organização social que gerencia essas iniciativas, resume bem a experiência. "O Juntos mostra que, apesar do noticiário político negativo, há um Brasil que consegue bons resultados, com ações corretas e inspiradoras."


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