Folha de S. Paulo


Após tragédia, Samarco só agiu a reboque de pressão

Desde o rompimento da barragem em Mariana (MG), há mais de um mês e com saldo de 15 mortos e quatro desaparecidos, a mineradora Samarco tem tomado medidas quase sempre a conta-gotas e apenas após pressão de Justiça, prefeituras, órgãos ambientais e Ministério Público.

A mineradora, controlada pela Vale e pela anglo-australiana BHP Billiton, é presidida por Ricardo Vescovi. Em 5 de novembro, o rompimento de uma barragem lançou um "tsunami" de lama em rios de Minas e do Espírito Santo.

Desde então, a empresa vem divulgando uma série de ações para reduzir os impactos causados pela onda de rejeitos de minério, como a entrega de milhões de litros de água e a colocação de boias de contenção da lama no mar.

Mas uma das primeiras ações concretas para mitigar os danos à destruição do distrito de Bento Rodrigues, por exemplo, ocorreu só após determinação do Iema (instituto de meio ambiente) do ES.

O órgão exigiu que a Samarco disponibilizasse uma aeronave para o governo sobrevoar áreas afetadas, distribuísse água para cidades dependentes do rio Doce, enviasse equipe para monitorar os impactos da lama e verificasse a qualidade do rio.

As ações a reboque de pressões e determinações seguiram. Duas semanas após a maior tragédia ambiental do país, a mineradora anunciou que trabalhou para resgatar peixes do rio Doce e transportá-los para tanques de cultivo, a fim de repovoar o rio quando possível. A medida, porém, fora ordenada pela Justiça três dias antes.

Outra ação que a Samarco tomou apenas após ser pressionada foi a de prestar auxílio a indígenas que dependiam do rio Doce. Eles protestaram por cinco dias na ferrovia da Vale, uma das donas da Samarco, até conseguir receber 44 mil litros de água.

Em pelo menos um caso a empresa agiu antes de alguma determinação judicial. A mineradora assumiu as operações para alargar a foz do rio Doce, três dias antes que a Justiça a obrigasse a fazê-lo.
Uma das determinações judiciais cumpridas em seguida pela empresa foi a colocação de barreiras flutuantes no rio para conter o fluxo de rejeitos até o mar.

O professor da Ufop (Universidade Federal de Ouro Preto) Hernani Lima, porém, diz que o uso de boias para reter a lama foi tratada como uma "piada" entre colegas, porque elas servem para casos de derramamento de óleo, que fica suspenso na água –coisa que não acontece com a lama de rejeitos. Procurada, a Samarco não se pronunciou.

Para Maria Dalce Ricas, superintendente da Associação Mineira de Defesa do Ambiente, as ações deveriam ter sido preventivas, mas, uma vez que a lama atingiu o rio Doce, havia pouco a ser feito para evitar os estragos.

Avener Prado/Folhapress
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A CONTA-GOTAS

O que a Samarco fez após tragédia em MG

5.nov Diz que alertou moradores de Bento Rodrigues por telefone após o rompimento da barragem; envia psicólogos, assistentes sociais, médicos e engenheiros, entre outros, para atender as comunidades

9.nov Distribui água para Colatina e Baixo Guandu e disponibiliza aeronave para sobrevoos, conforme ordem do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do ES

10.nov Providencia caminhonetes com sirenes para povoados de Mariana e Barra Longa

11.nov Afirma que vai reforçar as estruturas remanescentes das áreas das barragens

12.nov Começa a enviar 2,4 milhões de litros de água por dia para Governador Valadares

14.nov Diz que enviará o necessário para tratar água do rio Doce a Governador Valadares (MG)

15.nov Conclui, com a Prefeitura de Baixo Guandu (ES), a construção de adutoras para captar água do rio Guandu para o município; anuncia resgate de peixes do rio Doce

16.nov Envia 44 mil litros de água para os índios krenak, que fecharam ferrovia da Vale

18.nov Começa a reconstruir pontes em locais afetados; inicia a instalação de barreiras de contenção de lama na foz do rio Doce; assume abertura da foz do rio para facilitar escoamento para o mar

27.nov Apresenta plano de transferência para mover 25 famílias de desabrigados por semana de hotéis para residências temporárias, custeadas pela mineradora

30.nov Começa a pagar auxílio mensal para cada família afetada em Mariana, além de cesta básica e 20% do salário para cada dependente, como determinou a Promotoria

5.dez Informa que vai pagar, a partir do dia 11, auxílio para famílias ribeirinhas de MG e ES que tiveram renda comprometida pela lama, conforme acordo no Ministério Público do Trabalho


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