Folha de S. Paulo


Diretor da Samarco e Promotoria discutem acordo de ajuda a famílias

Após um depoimento ao Ministério Público de Minas Gerais que durou mais de três horas, o diretor-presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, afirmou que analisará "no menor tempo possível" uma proposta formal de ajuda às famílias atingidas pelo rompimento de uma barragem da mineradora em Mariana (MG).

É a terceira vez que o chefe da empresa, que pertence à Vale e à anglo-australiana BHP Billiton, é ouvido por autoridades públicas sobre a tragédia. Antes, ele já havia falado ao Ministério Público Federal e à Polícia Civil.

Editoria de Arte/Folhapress

"Prestamos os esclarecimentos que foram necessários. Nessa ocasião o Ministério Público também apresentou uma proposta de termo de compromisso que nós vamos estudar e dar uma resposta o mais rápido possível", disse, nesta sexta-feira (1º), em uma declaração rápida após sair do fórum de Mariana.

Ele chegou ao local pela porta dos fundos, acompanhado de dois advogados e de assessores, sem falar com a imprensa. Vescovi foi ouvido pelo promotor da comarca local, Guilherme Meneghin, que propôs um plano para que, inicialmente, os moradores dos distritos atingidos pela lama de mineração sejam realocados de hotéis para casas alugadas e recebam assistência financeira e no trabalho.

Depois, a empresa teria de apresentar um projeto de reconstrução dos vilarejos em outros locais e negociar indenizações às famílias.

A mineradora já transferiu cerca de 50 famílias de hotéis da região para casas alugadas e tem fornecido um auxílio de R$ 788 mais 20% para cada dependente, além de cestas básicas. Os moradores pedem que o montante aumente para R$ 1.500, mais 30% para cada dependente.

O Ministério Público deu até o dia 9 de dezembro para a Samarco se manifestar sobre o acordo, que seria assinado por meio de um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta). Se a empresa não aceitar a negociação, a Promotoria afirma que entrará com duas ações civis na Justiça.

De acordo com Meneghin, Vescovi afirmou que a proposta ainda deve ser apresentada ao conselho de administração da Samarco, que é formado por dois representantes da Vale e dois da BHP.

"Eles me asseguraram que a Samarco é uma empresa independente, só que para acordos de valores maiores como esse, de R$ 300 milhões inicialmente, precisa do aval do conselho", disse o promotor, acrescentando que "não há dúvida de que eles [os sócios] interferem [na Samarco]".

DINHEIRO DE FORA

Nesta segunda (30), a Samarco depositou R$ 500 milhões em suas contas no Brasil e R$ 300 milhões desse total ficaram bloqueados a pedido da Justiça, para garantir que a mineradora cumpra responsabilidades legais como indenizações aos atingidos.

O dinheiro, segundo a Promotoria, veio de contas da empresa nas Ilhas Cayman, Hong Kong e Holanda.

Além da quantia bloqueada, a Samarco ainda deve pagar, até esta terça (2), R$ 292 milhões que deve a um fundo criado em acordo com Ministérios Públicos estadual e federal para recuperação do meio ambiente.

A empresa também foi intimada pela Justiça mineira a depositar mais R$ 1 bilhão em juízo para cobrir danos ambientais provocados pelas barragens.


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