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Mina da Vale que enviava lama para barragem tem clima de apreensão

Avener Prado/Folhapress
Fachada da mina Alegria, da Vale, que mandava lama à barragem que se rompeu no dia 5 na cidade de Mariana (MG)
Fachada da mina Alegria, da Vale, que mandava lama à barragem que se rompeu em Mariana (MG)

A mina de Alegria, que integra o complexo da Vale na região de Mariana (MG), não tem nada que lembre a essência do nome.

Desde que a barragem de Fundão se rompeu, no último dia 5, causando um desastre ambiental de proporções históricas no Brasil, os funcionários da maior mineradora do país que trabalham na região vivem dias de apreensão.

Parte das operações no local está suspensa por causa do rompimento da barragem, que provocou o vazamento de mais de 40 bilhões de litros de lama.

Para uma cidade como Mariana, dependente da mineração, a suspensão parcial das atividades é mau sinal.

Significa menos receita para o município, que foi o que mais arrecadou com a CFEM (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Mineiras) em Minas Gerais até outubro passado, segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral.

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Para os funcionários, a redução também preocupa: como em outras ocasiões, pode ser prenúncio de demissões.

Como a Folha revelou, a barragem que se rompeu em Mariana, de responsabilidade da Samarco, também recebia lama da Vale.

A empresa –que, com a anglo-australiana BHP Billiton, é sócia da Samarco– usava a área de Fundão para despejar rejeitos de minério de ferro das atividades em Alegria.

A Vale confirmou o uso da barragem, mas afirmou que sua lama correspondia a menos de 5% do total depositado no local. A empresa, contudo, não soube informar quando começou a operação conjunta com a Samarco na barragem rompida.

A mina de Alegria, em linha reta, fica a cerca de 6 km de Fundão. A lama era enviada à área por tubulações que também foram destruídas. A Vale, contudo, não confirma.

O acidente em Mariana afetou ao menos uma das usinas de Alegria. Da entrada da mina, é possível ver as máquinas paradas (seguranças tentaram impedir o registro do local). Pessoas que trabalham no complexo de Mariana confirmam a redução das operações. E não só em Alegria.

A própria Vale admitiu em comunicado ao mercado financeiro, no dia 9, que o acidente prejudicou também as operações nas minas de Fazendão e Timbopeba, que integram o complexo da mineradora em Mariana.

Procurada, a Vale disse que a mina de Alegria continua em operação, mas não respondeu sobre a interrupção parcial das atividades.

A empresa afirmou que não reduziu a jornada dos funcionários.

Acionista da Samarco, a Vale até o momento não declarou responsabilidade pela tragédia em Mariana.

O desastre afetou cidades de Minas e do Espírito Santo, deixou ao menos oito mortos –11 pessoas ainda estão desaparecidas e quatro corpos aguardam identificação– e contaminou o rio Doce.

As causas do rompimento ainda são desconhecidas, e só uma investigação poderá dizer se a quantidade de lama enviada pela Vale estava ou não dentro das normas.

Do ponto de vista jurídico, no entanto, a responsabilidade é da Samarco, que gerenciava a área.

Infográfico: Dano ambiental


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