Folha de S. Paulo


Força-tarefa segue em busca de desaparecidos em Minas Gerais

A busca por desaparecidos na região de Bento Rodrigues, em Minas Gerais, segue na manhã deste domingo (8), após o rompimento de duas barragens da mineradora Samarco em Bento Rodrigues, subdistrito da cidade histórica de Mariana, na última quinta (5).

No momento, o governador de Minas, Fernando Pimentel (PT) está sobrevoando a região de Barra Longa (MG), a 70 km de Bento Rodrigues.

A região teve pancadas de chuva durante toda a noite, o que dificulta o processo de buscas. Nesta manhã, o tempo está nublado.

Por enquanto, os números oficiais continuam registrando dois mortos e 28 desaparecidos, dos quais 13 são trabalhadores da Samarco e 15 são moradores do distrito –entre eles, há cinco crianças com idades entre 3 meses e 7 anos.

O "tsunami de lama" após o acidente destruiu centenas de casas e arrastou carros e caminhões; a vila, que tem 121 casas e 492 moradores, segundo o IBGE, foi totalmente inundada pela lama.

A mineradora Samarco afirmou em nota que 253 pessoas, de 70 famílias, foram alocadas pela empresa em hotéis e pousadas da região de Bento Rodrigues.

Centenas de pessoas foram levadas em vans e ambulâncias à Arena Mariana, ginásio esportivo usado pela prefeitura para receber os desabrigados. Eles receberam roupas, comidas e assistência médica. Na manhã deste sábado (7), dezenas de familiares se aglomeravam na porta do ginásio, em busca de informações.

Mesmo com a lama ainda encobrindo a maior parte do subdistrito de Bento Rodrigues, alguns moradores já tentam voltar ao local.

DESAPARECIDOS

Trabalhadores na área da empresa Samarco
Samuel Viana Albino (Geocontrole BR Sondagens SA)
Valdemir Aparecido Leandro (Geocontrole BR Sondagens SA)
Ailton Martins dos Santos (Integral Engenharia LTDA)
Claudemir Elias dos Santos (Integral Engenharia LTDA)
Edinaldo Oliveira de Assis (Integral Engenharia LTDA)
Sileno Narkievicius de Lima (Integral Engenharia LTDA)
Daniel Altamiro de Carvalho (Integral Engenharia LTDA)
Vando Maurílio dos Santos (Integral Engenharia LTDA)
Pedro Paulino Lopes (Manserv Montagem e Manutenção SA)
Mateus Marcio Fernandes (Manserv Montagem e Manutenção SA)
Marcos Aurélio Perreira Moura (Produquimica)
Edmirson José Pessoa (Samarco)
Marcos Xavier (VIX Logística)

Informados pelos familiares
Emanuelly Vitória (5 anos)
Maria Elisa Lucas (60 anos)
Thiago Damasceno Santos (7 anos)
Mariana da Silva Santos (21 anos)
Ana Clara dos Santos Souza (4 anos)
Bruno dos Santos Souza (29 anos)
Antonio Prisco de Souza (65 anos)
Afonso Augusto Alves (54 anos)
Arnaldo Zeferino (40 anos)
Aparecida Viera (65 anos)
Joaquim Zeferino (70 anos)
Ana Clara Dias Batista (30 anos)
Mateus Dias Batista (5 anos)
Yuri Dias Batista (3 meses)
Maria das Graças Celestino da Silva (65 anos)

Editoria de Arte/Folhapress

MAR DE LAMA

O avanço da lama em um raio de mais de 100 km depois do rompimento das barragens deixou de prontidão 15 cidades de Minas Gerais e do Espírito Santo, que são abastecidas pela bacia do Rio Doce.

Há risco de enchente e de desabastecimento de água, segundo a avaliação do Serviço Geológico do Brasil, do Ministério de Minas e Energia, que teme um impacto de grandes proporções.

Algumas cidades já cogitam a suspensão do fornecimento de água assim que a lama atingir rios e córregos.

Depois do acidente, outros cinco subdistritos além da vila de Bento Rodrigues foram atingidos: Águas Claras, Paracatu, Pedras, Fonte do Gama e Camargos.

Quando o "tsunami" de lama atingiu o subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), a aposentada Margarida Siqueira, 65, moradora de Barra Longa, mais de 60 km distante, achou que era exagero se preocupar. Cerca de 12 horas depois, a onda chegou à cidade de 6.000 habitantes e deixou sua casa com lama até o teto.

"Eu ficava até criticando os outros, dizendo que não ia chegar aqui. Mas chegou forte", afirmou, neste sábado (7), na casa da irmã, para onde se mudou.

A principal reclamação da cidade é que não houve alerta. O prefeito Fernando de Zediteca (PMDB) diz que a Samarco não informou sobre o risco aos órgãos públicos.

"Ela diz agora que tem 90% de chance de não ter um novo vazamento. Nós e as outras cidades atingidas exigimos que ela ponha alarmes em cada lugar", disse. Procurada, a Samarco não se manifestou.

Por conta da falta de aviso, pouca gente se adiantou para salvar móveis e outros objetos. "Eu até imaginei que pudesse, chegar, mas como não houve alerta, deixei pra lá", afirmou a comerciante Maria do Rosário, 57, que teve a casa e três lojas invadidas pelo lamaçal.

Mesmo nos locais menos afetados, as pessoas têm andado nas ruas com máscaras descartáveis, para evitar a inalação da poeira.

"A gente não sabe se faz mal ou não, então temos que tomar cuidado", disse a auxiliar de odontologia Shirlei Souza, que recebeu a proteção de profissionais de saúde voluntários.

Além deles, outros grupos trabalham de graça para limpar as ruas e casas da cidade, como assistentes sociais, membros da igreja batista e escoteiros.

Até agora, não há registro de mortos ou desaparecidos no município.


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