Folha de S. Paulo


Mineradora da Vale diz que barragem estava em total condição de segurança

A mineradora Samarco, que pertence à brasileira Vale e à australiana BHP, afirmou que o conjunto de barragens no município de Mariana, em Minas Gerais, foi alvo de fiscalização em julho deste ano e encontravam-se em "totais condições de segurança".

Em nota divulgada nas redes sociais, a Samarco informou que a inspeção foi realizada pela Superintendência Regional de Regularização Ambiental (SUPRAM), órgão ligado ao governo do estado de Minas Gerais.

De acordo com o comunicado da Samarco, a represa em Mariana era composta por quatro barragens batizadas de Germano, Fundão, Santarém e Cava do Germano. Todas estariam com as devidas licenças de operação, segundo a mineradora.

A Vale informou, em nota, que vem prestando apoio às equipes e autoridades que estão trabalhando no local do acidente. "Gostaríamos de expressar nossa solidariedade a todos os atingidos por este lamentável acidente nas barragens de rejeitos da Samarco em Minas Gerais. Não mediremos esforços para prestar todo o apoio necessário à Samarco e às autoridades", escreveu o presidente da mineradora, Murilo Ferreira.

Em vídeo publicado nas redes sociais (assista abaixo), o diretor presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, disse lamentar o rompimento de duas barragens de rejeitos de minério em Mariana (MG) e acrescentou que a companhia está concentrada em conter os danos.

Ricardo Vescovi, da Samarco


"Lamentamos profundamente e estamos muito consternados com o acontecido, mas estamos absolutamente mobilizados para conter os danos causados por este trágico acidente", disse Vescovi.

Segundo ele, o plano de ação emergencial de barragens foi acionado e a companhia está atuando em parceria com as autoridades competentes para tentar remediar a situação. Vescovi não falou sobre o que teria levado ao rompimento das barragens. "Não podemos confirmar as causas nem o número de vítimas nem a extensão do ocorrido", disse.

As operações da Samarco no município foram paralisadas.

ACIDENTE

Duas barragens de uma mineradora se romperam em Bento Rodrigues, a 15 km histórica de Mariana (a 124 km de Belo Horizonte), em Minas Gerais, na quinta-feira (5). Um "tsunami de lama" destruiu centenas de casas, arrastou carros e caminhões.

O acidente ocorreu por volta das 15h30 na vila que tem 121 casas e 492 moradores, segundo o IBGE. Na hora do rompimento, um funcionário da empresa Samarco, responsável pela barragem de contenção de rejeitos, morreu no local. De 25 a 30 funcionários estavam no local.

Editoria de Arte/Folhapress

Sete carros dos bombeiros de Belo Horizonte, dois de Ouro Preto e helicópteros com cães farejadores foram enviados a Mariana, que foi isolada. A cidade não possui bombeiros militares, apenas civis.

Segundo Sérgio de Moura, diretor do Metabase (sindicato dos trabalhadores na indústria de mineração de Mariana), a Samarco disse que houve abalos sísmicos na região às 14h.

O Centro de Sismologia da USP (Universidade de São Paulo) registrou quatro abalos sísmicos em Minas perto da barragem que ruiu. Os técnicos afirmam que ainda não é possível estabelecer uma relação direta entre causa e efeito.

Os quatro terremotos tiveram magnitudes bem pequenas, entre 2,0 e 2,6, segundo os geólogos. Como a barragem rompeu por volta das 15h30, segundo testemunhas, dois dos abalos registrados ocorreram antes desse horário.

Veja vídeo

O Ministério Público de Minas Gerais abriu inquérito, conduzido por cinco promotores, para apurar as causas e responsabilidades. Segundo o promotor Carlos Eduardo Ferreira Pinto, é prematuro tirar conclusões, mas ele descarta se tratar de um "acaso". "Nenhuma barragem se rompe por acaso, isso não é uma fatalidade. Precisamos de rigor nesta apuração."

A presidente Dilma Rousseff colocou à disposição as forças nacionais para ajudar no resgate de desaparecidos.

Infográfico: Barragem se rompe em MG

OUTROS CASOS

Em 2014, um acidente na barragem da Mineradora Herculano, no dia 10 de setembro, em Itabirito (a 58 km de Belo Horizonte), deixou ao menos três trabalhadores mortos.

Na época, o rompimento da barragem provocou o deslizamento de um grande volume de rejeitos de minério e lama, que atingiu veículos da empresa e matou os funcionários.

Em 27 de maio de 2009, a barragem Algodões 1, em Cocal (282 km de Teresina), se rompeu e matou oito pessoas no Piauí. O acidente liberou todos os 50 milhões de litros de água armazenados.

Uma comissão independente formada por quatro professores da UFPI (Universidade Federal do Piauí) afirmou na época que a barragem Algodões 1 estava sem manutenção havia cinco anos.

Cinco anos antes, uma inundação decorrente de um vazamento na Barragem de Camará (152 km a oeste de João Pessoa, na Paraíba) matou ao menos três pessoas, duas em Alagoa Grande e uma em Mulungu, além de deixar outras 1.600 desabrigadas nos dois municípios.

Os municípios mais atingidos pela enchente -Alagoa Grande e Mulungu- ficam rio abaixo logo depois da barragem, na região do Estado conhecida como "brejo" -que divide o litoral do sertão.

Alagoa Nova, onde fica a barragem, teve poucos estragos em casas na zona rural, pois a construção fica na parte baixa da cidade.

Araçagi, Alagoinha, Mamanguape e Rio Tinto, as duas últimas já localizadas próximo ao litoral paraibano, também sofreram transtornos.


Endereço da página:

Links no texto: