Folha de S. Paulo


Governo Alckmin omite dados de mortos por policiais em SP

Em meio a uma escalada de crimes de repercussão nacional envolvendo policiais de São Paulo, a gestão Geraldo Alckmin (PSDB) divulgou nesta quinta-feira (22) somente parte das estatísticas sobre as mortes causadas por policiais no terceiro trimestre.

A estratégia de fatiar as informações vem sendo adotada com frequência pelo secretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, potencial candidato tucano à Prefeitura de São Paulo em 2016.

Pela manhã, Moraes exaltou uma queda de 20% no número de mortos por PMs em serviço no Estado no terceiro trimestre em relação a igual período de 2014 –de 159 para 127. Com esse dado divulgado, houve leve recuo, de 2%, no acumulado dos primeiros nove meses deste ano.

O secretário de Alckmin não anunciou, porém, os dados de mortes no trimestre por PMs de folga nem as causadas por policiais civis. No trimestre anterior, eles foram liberados em conjunto.

Após reiterados pedidos da Folha, a secretaria decidiu passar esses números às 21h. Eles mostram que fatiar as estatísticas permite à pasta obter recortes favoráveis.

Por exemplo: as mortes causadas por policiais civis, inicialmente omitidas, estão em alta. Com isso, a letalidade policial nos primeiros nove meses do ano subiu 1% –apesar da queda de 2% das mortes por PMs em serviço.

Infográfico: Letalidade policial

O número de mortes por policiais militares de folga, também omitido por Moraes, foi maior no terceiro do que no segundo trimestre do ano. Mas não é possível saber se cresceu ante 2014 porque a gestão Alckmin mantém os dados do ano passado em segredo –apesar dos pedidos da Folha.

Foi em horário de folga que PMs são suspeitos de comandar a maior chacina do ano no Estado, em agosto, quando ao menos 23 pessoas foram assassinadas em Osasco e Barueri (Grande SP). O caso é investigado por uma força-tarefa do governo e não faz parte da estatística divulgada.

Outro caso de repercussão envolvendo policiais terminou com a morte de dois suspeitos de roubar uma moto, em setembro, no Butantã (zona oeste). Mesmo rendidos, foram baleados –parte da ação foi flagrada em vídeo.

Os dados da violência, antes da chegada de Moraes ao cargo, em janeiro, eram divulgados de uma só vez no dia 25 de cada mês. Os de letalidade policial, trimestralmente, todos juntos. Agora, os balanços são picotados. No mês passado, ele antecipou as estatísticas de homicídio só da capital e reteve dados de região metropolitana e interior.

Infográfico: Evolução das mortes pela polícia

OUTRO LADO

Questionada nesta quinta-feira (22) sobre as razões de antecipar apenas parte das estatísticas de mortes causadas por policiais, a secretaria da Segurança Pública não respondeu à reportagem.

No mês passado, diante de situação semelhante –referente a homicídios na Grande SP–, a pasta afirmou à Folha que não existia uma tática para esconder os dados.

O argumento é que, conforme norma estadual, o governo tem até o dia 25 de cada mês para publicar integralmente os indicadores sobre segurança pública.

"É importante destacar que São Paulo é o Estado brasileiro com as estatísticas criminais mais transparentes do país. Outro exemplo de transparência é o fato de que o próprio secretário da
Segurança Pública divulga os dados e abre para perguntas da imprensa", afirmou a pasta, em nota, naquela ocasião.

Nesta quinta, depois de uma palestra sobre segurança e liberdade na FMU (Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas), na capital paulista, o secretário Alexandre de Moraes disse que sua gestão não tolera abusos por parte da polícia.

"Minha prioridade é uma polícia forte que atue dentro da legalidade. Eu não tolero abusos. Isso vem sendo demonstrado na diminuição da letalidade", afirmou, ao anunciar os números divulgados parcialmente.

Colaborou FERNANDA ATHAS


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