Folha de S. Paulo


Crise econômica afeta doações a entidades assistenciais em São Paulo

A crise econômica afetou entidades assistenciais de São Paulo, que passaram a sofrer com a queda nas doações de pessoas físicas e jurídicas.

O orçamento menor resultou em demissões e em redução nos serviços prestados.

Com 1,39 milhão de atendimentos em todo o Brasil, cerca de 60% em São Paulo, a AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) teve queda de 30% das doações neste ano, que representam iguais 30% das receitas anuais da entidade.

A consequência foram cortes de custos e o fechamento de duas das unidades na capital, nas zonas sul (Campo Grande) e norte (Santana), para "racionalização de custos e manutenção do tratamento com excelência", disse a instituição à Folha.

Os pacientes foram transferidos para as unidades Ibirapuera (zona sul) e Mooca (leste), respectivamente.

A medida faz pais terem de gastar cerca de uma hora e meia de ônibus no trajeto até os locais atuais de atendimento, caso do mecânico industrial Rogério Reis, 29, que leva o filho Guilherme, 10, ao Ibirapuera. O menino tem paralisia cerebral leve.

A cabeleireira Mariana Gabriela Santos, 26, mãe de Murilo, também com paralisia cerebral, se queixa de que o filho recebeu alta pouco antes de a unidade Campo Grande fechar.

A AACD diz que a alta se deu após decisão de um conselho com terapeutas e supervisores, pelo fato de o garoto ter alcançado os objetivos para o nível motor e continuar a fazer fonoaudiologia na unidade Ibirapuera.

A Prefeitura de São Paulo negocia com a AACD ocupar os imóveis e transformá-los em centros de reabilitação.

INADIMPLÊNCIA

Na Apae-SP (Associação de Pais e Amigos do Excepcional), a crise pode ser vista no aumento da inadimplência, de quase zero para 48%, diz a superintendente Aracélia Lúcia Costa. Mais: caíram 20% os repasses de créditos via Nota Fiscal Paulista.

A alta do câmbio também fará a empresa ter prejuízo de R$ 1,1 milhão neste ano com testes do pezinho, importados.

A entidade paga em euro e recebe em real do SUS (Sistema Único de Saúde).

Para 2016, a Apae-SP estuda reduzir projetos que não sejam de atendimento direto.

Na ONG Futurong, em Parelheiros (zona sul), houve demissões de 20% do quadro de pessoal e ficou congelado o plano de expansão de atendimentos —são 800, e o número deveria subir para 2.000 neste ano, diz Lucas Duarte, presidente da ONG, que atende crianças carentes. A razão foram as quedas nas doações.

Fundador CEO da ONG SITAWI Finanças do Bem, que ajuda a financiar projetos sociais no terceiro setor, Leonardo Letelier diz que empresas têm cortado os investimentos em geral, o que impacta em projetos sociais.

Uma das maneiras de lidar com a crise é diversificar as possibilidades de receita, para não depender só de doações, diz.

"É fato que as organizações não governamentais estão sofrendo. É uma pena porque, em período de retração, a necessidade aumenta. No mundo ideal, seria quando as pessoas doariam mais, mas, no mundo real, é quando doam menos."


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