Folha de S. Paulo


Guarda suspeito por chacina falou com oficiais da PM na noite do crime

Um guarda civil, preso sob a suspeita de participar da chacina que deixou ao menos 23 mortos na Grande São Paulo em agosto, trocou mensagens e telefonemas com policiais militares antes e depois dos crimes.

Entre os que participaram dessas conversas estão oficiais do comando da PM na região onde ocorreram os ataques em série.

Documentos obtidos pela Folha mostram que Sérgio Manhanhã, membro da Guarda Civil Municipal de Barueri (SP) e preso por ordem da Justiça há duas semanas, se comunicou com ao menos três oficiais de Osasco e Barueri entre 12 e 14 de agosto.

Na noite do dia 13 ocorreu a maioria dos assassinatos, quando 19 pessoas foram mortas. A investigação da chacina, contudo, considera que ela começou a ser deflagrada cinco dias antes, quando ao menos outras quatro pessoas foram mortas na região metropolitana de SP.

Dois assassinatos de agentes de segurança, segundo as investigações, motivaram os ataques em série: o de um PM, no dia 7, e de um guarda-civil metropolitano, no dia 12.

A comunicação entre o guarda suspeito de participar da chacina e oficiais da região, apesar de o serviço telefônico não revelar o teor das conversas, chamou a atenção dos investigadores sobretudo por causa do horário.

Um dos oficiais que falou com o guarda é o tenente Roberto Farina Filho, que até julho comandou um grupo da força tática da PM de Barueri. Naquele mês, fora transferido para um batalhão de Osasco.

A conversa entre eles ocorreu à 0h34 de 14 de agosto, cerca de 40 minutos após o fim dos ataques. Localizado por telefone, Farina não quis comentar o assunto. No dia seguinte à chacina, o tenente também conversou por telefone com outro guarda-civil de Barueri investigado por envolvimento nos crimes.

Apesar das conversas, Farina até o momento não foi ouvido pela força-tarefa das polícias criada pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB), que não quis comentar a investigação alegando que ela está protegida por sigilo.

Ainda de acordo com os documentos obtidos pela reportagem, Manhanhã também manteve contato entre os dias 12 e 14 de agosto com outros dois oficiais da PM de Osasco. Eles foram identificados apenas como "tenente Jennifer" e "tenente Morales".

POSITIVO

O guarda-civil metropolitano de Barueri não conversou somente com oficiais da Polícia Militar. Na noite do dia 13 de agosto, por exemplo, ele enviou um sinal de positivo pelo aplicativo WhatsApp às 19h02 para o soldado Victor Cristilder dos Santos, que também está preso acusado de envolvimento na chacina. Às 22h58 do mesmo dia, outra vez Manhanhã enviou ao policial o sinal de positivo.

Segundo a investigação, os horários coincidem com o começo e o final dos ataques. Registros oficiais mostram que os dois ataques em Barueri ocorreram entre 22h15 e 23h45 do dia 13. A última execução ocorreu na rua Irene, 843. Rastreamento do telefone de Manhanhã revela que ele estava nessa via às 23h39.

Ainda sobre Cristilder, o policial era integrante da força tática da PM de Barueri e foi reconhecido por um sobrevivente dos ataques que começaram no dia 8 de agosto. A reportagem não conseguiu localizar a defesa do policial.

Testemunhas também afirmaram ter visto um veículo oficial da GCM de Barueri na porta do bar em Jardim Munhoz Júnior, em Osasco, onde oito pessoas foram mortas.


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