Folha de S. Paulo


Casos de morte violenta intencional aumentam em 18 Estados

Dezoito das 27 unidades da federação registraram no ano passado aumento do número de mortes violentas intencionais, de acordo com balanço do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

São homicídios, mortes por intervenções policiais, latrocínios e lesões corporais, nessa ordem de causa.

Em todo o Brasil, em 2014, foram registradas 58.559 mortes violentas intencionais, uma média de sete a cada hora ou 160 óbitos por dia.

Os números, segundo o fórum, uma ONG especializada em segurança pública, ajudam a desnudar o problema da alta letalidade no Brasil.

As vítimas preferenciais e majoritárias são as mesmas já expostas em outros indicadores de violência: jovens, homens, negros e moradores sobretudo das periferias das grandes cidades.

Para efeito de comparação, nos dez anos da Guerra do Vietnã os Estados Unidos perderam 58 mil homens no conflito –talvez a maior derrota militar da história do país.

"O número é assustador, mas não surpreende quem acompanha essa questão", afirma Luiz Eduardo Soares, antropólogo, cientista político e ex-secretário nacional de Segurança Pública.

"Se nós reconhecêssemos que estamos diante de uma tragédia, de uma catástrofe, trataríamos isso como prioridade. Por que, sabendo disso, as autoridades políticas, a mídia e as entidades civis não atuam com a força e o destaque que mereceria?", questiona Soares.

Ele mesmo responde a essa indagação: "Porque atinge principalmente os marginalizados da sociedade".

Entre os Estados que registraram aumento nas mortes violentas intencionais, o Piauí foi o que apresentou a maior alta (32%) na comparação entre 2014 e 2013.

Infográfico: Mortes violentas intencionais

De acordo com a medição usada, Alagoas, mesmo tendo reduzido percentualmente seu índice, é o Estado que lidera o ranking, com 66,5 mortes intencionais a cada 100 mil habitantes.

A Bahia lidera o ranking se analisado o número absoluto de mortes (6.265, ante 2.208 de Alagoas), com taxa de 41,4 a cada grupo de 100 mil.

Quem mais avançou no ranking, reduzindo as mortes, foram, respectivamente, Roraima e Minas Gerais.

O Estado de São Paulo, que teve aumento de quase 2% nas mortes violentas intencionais no último ano, é o que tem a menor taxa de mortos por 100 mil habitantes, 12,7.

O Rio foi a segunda unidade da federação com o maior número absoluto de mortes intencionais em 2014, 5.719 pessoas, uma alta de 7% em relação ao ano anterior –a taxa por 100 mil foi de 34,7.

SISTEMA

Segundo Luiz Eduardo Soares, os dados divulgados –coletados via Lei de Acesso à Informação nas secretarias estaduais de Segurança Pública ou Defesa Social– mostram uma tendência de nacionalização da letalidade.

Ou seja, o que antes era um problema típico das regiões metropolitanas das grandes cidades desde o início dos anos 2000 se alastrou pelo interior do país.

"É um problema sistêmico. Se houvesse mais igualdade, ou se essas mortes afetassem a classe média de forma equânime, nós todos já estaríamos mobilizados", afirma.

Mesma ressalva faz o vice-presidente do Conselho de Administração do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, para quem os atuais índices, se analisados diante dos cerca de R$ 70 bilhões destinados à segurança pública no país, mostram que o atual modelo "fracassou".


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