Folha de S. Paulo


Empresas aéreas 'recortam' índices por troféus de pontualidade

As maiores empresas aéreas brasileiras estão em uma disputa pública pela liderança da pontualidade no país.

Em setembro, TAM, Gol e Azul –pela ordem, as três primeiras do mercado– anunciaram ter sido as campeãs de voos no horário, cada uma com um critério diferente.

Além de irritar passageiros, o atraso obriga companhias a gastar com assistência prevista em lei –a partir de uma hora, o passageiro tem direito a internet ou telefonema; de duas, a alimentação; de quatro, acomodação ou transporte para casa.

As empresas alardeiam o índice que mais lhes convém. Assim, a TAM e a Gol se declararam líderes no quesito pontualidade em agosto.

A primeira considera como atraso os voos que chegam 15 minutos depois do horário previsto; já o índice da Gol leva em conta não as chegadas, mas partidas que atrasam. O tempo para definir atraso também é outro: 30 minutos.

Já a Azul diz ter sido a mais pontual de janeiro a agosto.

Editoria de Arte/Folhapress

A Folha comparou TAM, Gol, Azul e Avianca, em um período de 12 meses (setembro de 2014 a agosto de 2015), a partir da FlightStats, única métrica independente e pública disponível sobre o setor.

A Azul foi a mais pontual (89,1%), seguida de TAM (86,4%), Gol (85,1%) e Avianca (84,5%). Seus índices são próximos dos melhores no mundo, segundo o site.

AUGE NA CRISE AÉREA

A crise aérea de 2007 foi o auge do desacerto das empresas em relação à pontualidade. Na ocasião, um a cada três voos saía atrasado.

De lá para cá foi criada a obrigação de assistência aos passageiros, as companhias ficaram mais eficientes, e os aeroportos concedidos à iniciativa privada melhoraram a infraestrutura.

Mas não foi só isso: os tempos reservados para cada voo ficaram maiores para atenuar atrasos. Um voo com 65 minutos de duração passou a levar 68, por exemplo.

A prática foi admitida, em 2014, pela própria Abear, entidade que representa TAM, Gol, Azul e Avianca, como meio de atenuar deficiências na infraestrutura. Consultadas, TAM, Gol e Azul negam recorrer ao expediente.

Segundo pilotos da Azul, líder em pontualidade, a empresa é uma das que historicamente recorrem ao artifício.

"Os voos da Azul têm sempre o tempo exagerado. Se está lá que vai durar uma hora, conseguimos fazer em 45 minutos. Tem um voo Guarulhos-Navegantes que consta 1 hora e 22 minutos, mas fazemos em 50 minutos", diz um tripulante da companhia.

A Azul afirma que o tempo reservado para cada voo reflete a realidade e que monitora sempre esse índice.

Quando um voo está atrasado, a empresa reduz o tempo da aeronave no solo para diminuir o atraso na etapa seguinte. Isso inclui apressar o tempo de limpeza dos aviões.

A Gol tem meta de atraso de zero minuto. Gerentes e diretores recebem bônus. A empresa aumentou de 45 minutos para uma hora a antecedência com que o passageiro se apresenta em Congonhas, um dos aeroportos mais movimentados do país –mesma regra em vigor em Guarulhos.

PORTÃO DE EMBARQUE

Comissários da Gol e da TAM dizem que ambas estão menos tolerantes com atrasos no embarque.

"Antes, quando faltavam dois ou três passageiros, o comandante esperava. Agora, quem se apresentou no horário embarca; quem atrasa, não", relata um comissário da TAM. A empresa diz tomar "todas as medidas" para assegurar a pontualidade.

Em maio, o funcionário público João Luiz Barreto, 43, diz ter chegado ao portão de embarque um minuto antes de seu fechamento oficial, mas não pôde embarcar no voo da Gol que ia do Rio a Brasília.

Pagou um novo bilhete, mas, após se queixar ao site "Reclame Aqui", obteve reembolso do valor gasto.


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