Um policial militar do Batalhão de Radiopatrulha atirou na direção do rosto de um manifestante durante protesto do movimento Ocupe Estelita na noite desta quinta-feira (1º), no Recife.
Vídeos que foram divulgados nas redes sociais mostram o momento em que os manifestantes levantam uma faixa para passar sobre dois policiais que estavam na rua, em frente à passeata.
A faixa encosta no boné de um dos policiais, que reage e dispara um tiro de bala de borracha em direção ao rosto do estudante Leonardo Ferreira, de 21 anos. O jovem se virou e foi atingido nas costas.
Segundo manifestantes, o policial que fez o disparo não usava identificação. A assessoria da PM afirmou que ele já foi identificado, mas que não divulgaria seu nome e que esse fato foi comunicado ao comandante do batalhão.
Guga Matos - 10.set.2014/JC Imagem/Folhapress | ||
Vista aérea do cais José Estelita (centro do Recife), onde consórcio quer erguer 13 prédios |
O grupo passava pela avenida Cais do Apolo, na região central, e protestava contra a construção do empreendimento imobiliário Novo Recife no cais José Estelita. Eles afirmam que a construção irá descaracterizar a paisagem do centro histórico da cidade e defendem o uso pública da área.
Na quarta-feira (30), a Polícia Federal deflagrou a operação Lance Final, para investigar suspeita de fraudes no leilão que realizou a venda do terreno ao consórcio Novo Recife. Segundo as investigações, há indícios de direcionamento e prejuízos de R$ 10 milhões aos cofres públicos. O consórcio nega.
Segundo manifestantes que estavam no protesto, os policiais que acompanharam o ato tentavam "provocar" os manifestantes desde o início da passeata.
"Foi arbitrário, o policial atirou sem ter nenhuma troca de palavras. Não consigo pensar em outro motivo que não o racismo, porque o Leonardo era o único negro que estava na frente", disse o estudante Pethrus Cavalcante, 23.
O movimento Ocupe Estelita afirma que irá analisar quais medidas tomar contra o policial que agrediu o manifestante.
Em nota, o Comando Geral da Polícia Militar afirma que determinou o afastamento do policial envolvido e que ordenou "a apuração rigorosa dos fatos".
"De imediato, o comando já determinou a apuração rigorosa dos fatos, que considera lamentável e equivocado. Até que sejam concluídas as apurações, já foi determinado ao comando do BPRP (Batalhão de Radiopatrulha) que afaste o policial militar envolvido no episódio das ocorrências de mesma natureza."
Guga Matos - 30.mai.2014/JC Imagem/Folhapress | ||
Manifestação do Ocupe Estelita em maio, em Recife |
HISTÓRICO
O cais José Estelita, na região central do Recife, virou alvo de debates entre movimentos sociais, poder público e construtoras do Consórcio Novo Recife, que pretendem erguer um empreendimento imobiliário no local.
Em 2014, ativistas deram início ao movimento que ficou conhecido como Ocupe Estelita, que se opõe à obra.
O projeto prevê a construção de 13 espigões –dez prédios residenciais, um empresarial, um misto e um hotel– no terreno onde existem antigos armazéns, considerados pelo Ministério Público construções de valor histórico. O investimento previsto no local é de R$ 1,5 bilhão.