Folha de S. Paulo


Represas de SP fecham no azul pela primeira vez desde 2014

Robson Ventura/Folhapress
Em Mogi das Cruzes, na Grande SP, represa do Alto Tietê, sistema em situação crítica mesmo após as chuvas de setembro
Em Mogi das Cruzes, represa do Alto Tietê, com situação crítica mesmo após chuvas de setembro

Pela primeira vez desde o início da crise hídrica, em janeiro do ano passado, as represas que abastecem a Grande SP fecharam um mês com "lucro" de água em relação ao mesmo mês do ano anterior.

Ao final de setembro, com chuvas acima da média histórica para o mês, as represas da região metropolitana armazenavam 493 bilhões de litros de água, 14% a mais do que no mesmo período de 2014.

Apesar da aparente boa notícia deste saldo positivo, alguns dos reservatórios ainda estão em estado crítico e operam perto do colapso.

Um deles é o sistema Cantareira, principal manancial da metrópole e desde julho do ano passado na UTI. Ele só consegue operar com o auxílio de bombas auxiliares que conseguem puxar a água do fundo das represas –o chamado volume morto.

Além disso, no intervalo de um ano, o Cantareira foi o único dos seis reservatórios que abastecem a grande SP que perdeu volume (7%).

No último mês, no entanto, ele esboçou uma reação e ganhou 8 bilhões de litros em relação a agosto, passando de 11,9% para 12,6% de sua capacidade.

Nesse ritmo, o Cantareira demoraria ainda 16 meses para não mais depender da água do volume morto.

Infográfico: Saldo das represas

"Dificilmente ocorrerão 16 meses com o mesmo volume de chuvas deste último setembro. Afinal, há meses mais secos ao longo do ano. Por isso, a recuperação do Cantareira deve durar ainda dois a três anos", diz o professor de hidrologia da federal do Rio Grande do Sul, Carlos Tucci.

Para ele, o saldo positivo nas represas pode ser apenas o reflexo da comparação de um setembro razoável deste ano com um setembro muito ruim de 2014. "O importante é comparar o nível atual das represas com o que é esperado para essa época do ano, que é bem superior", diz.

Infográfico: Saldo por reservatório

TEMPORADA CHUVOSA

A perspectiva é que a temporada chuvosa, que vai de outubro a março, traga mais chuvas por mês, em média, do que este último setembro.

O problema é que, nos últimos dois anos, essa estação chuvosa não trouxe a água esperada, e as represas aceleraram seu esvaziamento.

Para Tucci, a boa notícia é que o clima possa estar retomando padrões de anos anteriores à crise. "No entanto, não há garantias do clima. Então, há muito trabalho a ser feito ainda", afirma.

Em recente entrevista à Folha, o presidente da Sabesp (empresa paulista de saneamento), Jerson Kelman, resumiu o clima de incerteza.

"Em outubro, novembro e dezembro tem que chover. Não há dúvida de que é preciso que a precipitação [chuva] volte à normalidade, a perto da normalidade, para sairmos da situação de anormalidade. Isso é claro."

Infográfico: Volume de água no Cantareira

Ao lado de algumas obras de interligação entre sistemas, a chuva é uma das condições que a Sabesp observa e que a fez descartar a possibilidade de rodízio (entrega controlada de água) ainda este ano em São Paulo.

Outra condição para que não se tenha um rodízio agora é manter baixo o consumo de água. Parte disso ocorre quando a população adota medidas de economia.

Mas a Sabesp também atua nesse sentido diminuindo a força com que a água é enviada pelos canos. Assim, menos água vaza pelas inúmeras falhas da tubulação da cidade.

O efeito perverso dessa operação é que, sem força, a água não chega como antes, provocando, na prática, um forte racionamento.

Alguns bairros, em especial na periferia e regiões mais altas, convivem há um ano e meio com torneiras secas de 15 a 20 horas por dia.


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