Folha de S. Paulo


Bairro da zona sul de SP teme 'afundar' com nova lei de zoneamento

Avener Prado/Folhapress
Moradores da Chácara Santo Antônio (zona sul) que são contra o novo zoneamento
Moradores da Chácara Santo Antônio, bairro na zona sul de SP, que são contra o novo zoneamento

Com medo de um afundamento –literal– do bairro, moradores da Chácara Santo Antônio, na zona sul de São Paulo, resistem às mudanças propostas pela lei de zoneamento, em debate na Câmara de vereadores.

O bairro, formado principalmente por ruas de construções baixas e residenciais, fica em parte na antiga várzea natural do rio Pinheiros. Ali, perto da superfície, passa um lençol freático.

O temor é que a chegada de novas e maiores construções, além do aumento do comércio, previstos no projeto de lei, possam causar movimentações no solo que provoquem rachaduras nas casas.

"A Chácara tem ruas residenciais, com casas geminadas, que não vão aguentar uma transformação muito grande", diz Cristina Antunes, arquiteta e diretora de uma associação de bairro local.

"Tivemos problemas sérios durante construções. Casas racharam e tiveram que ser desocupadas", afirma.

Infográfico: Mapa do zoneamento

Um caso grave ocorreu em 2008, quando 27 casas foram interditadas e dez tiveram que ser totalmente desocupadas por causa de rachaduras.

Segundo o geólogo Ricardo Hirata, cientista e professor da USP, o problema do afundamento do solo é real, pelo menos em parte da Chácara.

"É uma área que merece um estudo específico. O problema sozinho não impede novas construções na região, desde que, nas grandes obras, as casas vizinhas sejam monitoradas", diz.

A região está em transformação. A lei de zoneamento prevê ali uma série de corredores comerciais, onde grandes prédios podem surgir.

Infográfico: Entenda a Lei de Zoneamento

O conjunto de obras viárias para aquela parte da cidade também é grande. Existe até um túnel previsto para lá.

Além disso, diz Cristina, os moradores de ruas como Fernandes Moreira e Capitão Otávio Machado, querem preservar a paz do local.

Para a moradora e designer Adriana Ribas Lyra Loes, essas mudanças drásticas no zoneamento de um bairro são um grande equívoco. "Acaba sendo um desrespeito, porque mexe com a casa própria, com um sonho de moradia para a vida toda", diz Loes.

Os moradores já fizeram seus pedidos nas audiências públicas da Câmara. O novo texto do projeto de lei deve ser concluído até o fim do ano.

Avener Prado/Folhapress
Praça Haruo Uoya, na Chácara Santo Antônio; moradores temem que bairro perca ritmo calmo
Praça Haruo Uoya, na Chácara Santo Antônio; moradores temem que bairro perca ritmo calmo

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