Folha de S. Paulo


CET pediu mudanças em ciclovia que 'poupou' família de secretário

O secretário de Transportes da gestão Fernando Haddad (PT) ignorou um parecer da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) que pede mudanças numa ciclovia alvo de investigação da Promotoria.

Essa ciclovia da zona sul foi implantada no ano passado, após uma polêmica mudança de rota. O projeto original foi descartado, e a via de bicicletas, instalada dois quarteirões abaixo.

Com a mudança de trajeto, como a Folha mostrou na semana passada, a ciclovia deixou de passar em frente a cinco imóveis da família do secretário Jilmar Tatto (Transportes), que também acumula a presidência da CET.

Editoria de Arte/Folhapress
Prefeitura faz ciclovia que desvia de imóveis da família do secretário de Transportes

A reportagem serviu de base para a Promotoria do Patrimônio Público e Social investigar o traçado adotado e os custos para a implantação.

O trajeto atual tem desvios em ruas paralelas e muda de lado dentro da própria via algumas vezes, num zigue-zague que provocou reclamações dos moradores. O parecer da CET pede que a ciclovia fique em uma reta única na rua Alexandre Dumas, sem desvios nas ruas internas, que são predominantemente residenciais.

Entre os argumentos, estão a baixa adesão ao traçado pelos ciclistas e o risco de acidentes com carros, já que a via faz quatro curvas e atravessa a rua outras quatro vezes.

Com base nisso, a CET avaliou, e o projeto de uma linha reta foi aprovado por superintendentes do órgão, após reuniões com moradores e comerciantes. Isso ocorreu em julho, mas, na semana passada, o secretário disse que não faria nenhuma mudança no trajeto para ciclistas.

Uma moradora afetada por um dos desvios diz que um fiscal de trânsito a repreendeu por ela ter estacionado na ciclovia em frente à sua casa para tirar o marido cadeirante do carro. "Levei multa e fui insultada. O pior é que ninguém passa por aqui de bicicleta."

Caso a rota fosse mudada, a ciclovia passaria ao lado da calçada da empresa de contabilidade de uma cunhada do secretário municipal.

O contador Raí Lima, 40, trabalha na empresa e disse à Folha na última quinta (17) que o novo trajeto prejudicaria quem frequenta a região.

"Já está um caos estacionar aqui. Se colocarem uma ciclovia, o que os clientes vão fazer?", questiona. Ele diz estacionar o carro no local onde está prevista a nova rota.

A prefeitura, agora, afirma que está viabilizando a mudança no trajeto (leia texto ao lado). A gestão nega que as mudanças nessa ciclovia tenham ocorrido para favorecer a família do secretário. Na semana passada, além de dizer que não mudaria o trajeto, Tatto afirmou que não interfere nos locais por onde as ciclovias passam na cidade de São Paulo.

POSSIBILIDADE DE ALTERAÇÃO

A Prefeitura de São Paulo agora admite alterar o trajeto da ciclovia na zona sul. Questionada pela reportagem, a gestão Haddad (PT) afirma, em nota, que "o corpo técnico da CET considera o traçado reto na rua Alexandre Dumas o mais correto", conforme parecer, e "está em tratativas com outros setores da prefeitura e com a população para viabilizar a melhoria."

A administração municipal reitera que os critérios utilizados nos projetos das ciclovias "são técnicos e que modificações podem ser feitas para melhor atender a população."

Na semana passada, o secretário Jilmar Tatto (Transportes) disse que não faria mudanças no traçado da pista. Ao jornal "O Estado de S.Paulo", o secretário afirmou na sexta (18) que não alteraria a rota como consequência da reportagem da Folha.


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