Folha de S. Paulo


Faixa de ônibus na rodovia Raposo Tavares opõe prefeitura e Estado de SP

A Prefeitura de São Paulo e o governo estadual travam um embate em torno de uma faixa exclusiva de ônibus no trecho urbano da rodovia Raposo Tavares.

A via, que é um dos grandes gargalos de mobilidade na zona oeste da cidade, é alvo de uma proposta da prefeitura para acelerar as linhas de ônibus municipais.

Com volume superior a 185 mil veículos por dia, a Raposo é a rodovia estadual mais movimentada de São Paulo.

Presos no congestionamento com os demais veículos, os ônibus trafegam com velocidade média na casa dos 8 km/h nos horários de pico.

Com esse mesmo ritmo, um competidor da última Corrida de São Silvestre ficou apenas na 8.995ª colocação.

A prefeitura considera razoável velocidades de ao menos 20 km/h. Para atacar o problema, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) quer autorização para estreitar as três faixas da rodovia e abrir espaço para uma pista exclusiva de ônibus, à direita, com cerca de dez quilômetros de extensão nos dois sentidos.

O DER (Departamento de Estradas de Rodagem), órgão do Estado responsável pela estrada, resiste à ideia. Argumenta que uma faixa ali é "inviável" do ponto de vista técnico e pioraria ainda mais o trânsito e a segurança.

A posição do Estado foi comunicada à equipe da prefeitura há alguns meses. A Folha apurou, entretanto, que a gestão Fernando Haddad (PT) não abandonou a ideia e cogita até acionar diretamente o governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Infográfico: Faixa de ônibus na Raposo Tavares

Um dos argumentos a serem usados é que linhas intermunicipais da EMTU também serão beneficiadas.

A Raposo Tavares já foi alvo de outros projetos de transporte público do próprio Estado que empacaram e até hoje não saíram do papel.

Um deles era uma linha de monotrilho, com 16 estações, ligando São Paulo a Cotia. O Metrô chegou a contratar um projeto funcional para a futura linha 22 há dois anos, mas atualmente não há previsão se ela será implantada.

Há um ano, usuários de ônibus da região organizaram um movimento pedindo uma faixa de ônibus na rodovia. Contam com 1.502 apoiadores no Facebook e organizaram audiência na Assembleia Legislativa em abril.

WHATSAPP

A auxiliar Maria Siqueira, 62, anda de ônibus na Raposo Tavares há 19 anos. Ela conta que a demora para chegar ao trabalho é tão grande que, há seis anos, formou um grupo de amigos que, como ela, ficam horas nos coletivos antes de chegar ao trabalho.

"A gente se conheceu por causa do tempo que passamos juntos dentro do ônibus todos os dias de manhã e à tarde. São pelo menos três horas por dia", diz.

Na sexta (4), Maria se despediu da rotina. Foi seu último dia no emprego antes de se aposentar. Grace Betto, 30, que continuará no ônibus, garantiu que, pelo aplicativo WhatsApp, continuaria contando as novidades do grupo à amiga aposentada.

Mas não é todo mundo que tem a sorte de criar amizades no ônibus lotado. A estudante Joana D'arque acorda todo os dias às 4h40 para chegar à Lapa às 8h20 para suas aulas na faculdade.

"Demoro, no mínimo, duas horas e meia. O trânsito é péssimo, muito cheio. Se tivesse um corredor para ônibus aqui, facilitaria a nossa vida, não tenho dúvidas. Tem dias em que você não consegue nem passar na catraca. Já cheguei a perder ponto por não conseguir descer, de tão lotado o ônibus", diz.

No ponto de ônibus do km 17 da rodovia, as estudantes Bianca Oliveira e Luana Figaro, ambas com 18 anos, aguardam o ônibus juntas. Levam uma hora para chegar, todos os dias, ao seu destino. Levantam às 5h30 da manhã para estarem no curso às 8h.

"O que pesa é a Raposo, porque depois que essa parte do caminho passa, levamos dez minutos pra chegar. Se houvesse uma faixa só de ônibus seria ótimo, mas os carros vão chiar", diz Bianca.

Infográfico: Velocidade dos ônibus municipais na rodovia

INVIÁVEL

A Secretaria Estadual de Transportes diz que uma comissão criada para analisar a proposta da prefeitura considerou a implantação da faixa de ônibus na Raposo "inviável sob o aspecto técnico-operacional".

Segundo a pasta, a medida não consiste apenas no estreitamento de faixas e pintura de solo. "A alteração exigiria diversas adaptações, como nas passarelas, barreiras de concreto e sistema de drenagem, para que as normas e padrões de segurança" da estrada fossem mantidos.

Além disso, o DER considera que o estreitamento das faixas "geraria impactos negativos no tráfego local e de municípios próximos, como Cotia, Osasco e Vargem Grande Paulista", além de complicar o acesso e saída de carros e caminhões do Rodoanel.

O Estado também aponta que, com faixas mais estreitas que as atuais –de largura entre 3,5 e 3,6 metros– "os acidentes envolvendo motociclistas aumentariam significativamente", principalmente nos trechos em curvas.

Para melhorar o trânsito da rodovia, o DER diz que deve concluir, até janeiro de 2017, obras de R$ 83,4 milhões para a recuperação da pista e melhorias na sinalização no trecho de São Paulo a Cotia.

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FAIXA DE ÔNIBUS NA RAPOSO TAVARES

O que quer a prefeitura
Estreitar as três faixas de tráfego da rodovia para criar uma pista exclusiva de ônibus, à direita, com cerca de 10 km, nos dois sentidos

O que diz o Estado
É 'inviável sob o aspecto técnico-operacional': o estreitamento geraria impacto negativo no trânsito e aumentaria risco de acidentes com motos

133 mil
passageiros são transportados por dia, em média, nas 20 principais linhas municipais que trafegam pela estrada


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