Folha de S. Paulo


Clube de Tiro questiona ação da polícia em apuração de chacina na Grande SP

O Clube de Tiro e Caça de Barueri, na Grande SP, decidiu questionar na Justiça a atuação da força-tarefa criada pelo governo paulista para investigar a chacina ocorrida no dia 13 de agosto em Osasco e Barueri. A agremiação afirma ter sido vítima de uma "desastrosa operação".

No final da tarde da última sexta-feira (28), um grupo de policiais esteve na sede do clube em Barueri para cumprimento de uma ordem de busca e apreensão expedida pela Justiça a pedido do DHPP (departamento de homicídios).

Foram levadas armas que, segundo disseram os policiais no local, podem ter sido utilizadas nos ataques que deixaram 19 mortos.

O mandado judicial utilizado pelos policiais na operação, porém, cita o nome do Clube Gold Shooting, que funcionava no mesmo endereço, mas encerrou as atividades em setembro de 2013.

Outra empresa passou a operar no local em dezembro do mesmo ano, a Mildot Comércio de Materiais de Segurança, com outros proprietários –esses, sim, responsáveis pelo Clube Tiro e Caça.

Divulgação - 28.ago.2015
Operação policial para apreender armas no Clube de Tiro e Caça de Barueri (Grande SP)
Operação policial para apreender armas no Clube de Tiro e Caça de Barueri (Grande SP)

Segundo o advogado Fernando Humberto Fernandes, defensor da Mildot, os policiais que foram à sede da empresa foram informados do fechamento do Gold Shooting, mas, mesmo assim, continuaram a operação e a apreensão de armas.

Fernandes afirma que foram coletadas 13 armas, entre elas revólveres calibre .38 e pistolas calibre 9 mm, .380 e .45, semelhantes àquelas utilizadas nos ataques de Osasco e de Barueri.

Fazem parte do material apreendido, ainda de acordo com o advogado, armas novas que eram expostas na loja para venda e, também, algumas que seriam usadas em um campeonato que será realizado lá nos próximos dias 5 e 6.

O Clube de Tiro alega ainda na petição, que será entregue à Justiça nesta terça-feira (1º), que os policiais entraram na sede da empresa sem "qualquer tipo de procedimento policial".

"Os funcionários de lá quase reagiram, acreditando ser um assalto. Por segundos, não houve mortes. Por sorte, um dos funcionários viu uma viatura parando do lado de fora", afirma trecho do documento da agremiação.

Procurada, a Secretaria de Segurança Pública não comentou o assunto. "A força-tarefa formada por policiais civis, técnicos científicos e Corregedoria da PM mantém diligências para esclarecer as mortes ocorridas no último dia 13 em Osasco e Barueri. A investigação segue em segredo de Justiça", diz.

O advogado criminalista Roberto Delmanto afirma que os policiais deveriam ter abortado a missão ao verificar a situação da empresa.

"A busca e apreensão precisa ter o endereço do local, de quem é a casa ou a quem pertence a empresa. Se o mandado estava em nome de uma empresa que já não estava mais lá, na minha opinião, a ilegalidade dessa busca é bastante evidente."

INVESTIGAÇÃO

A principal linha de investigação da polícia de São Paulo para os ataques é que eles sejam uma retaliação de policiais militares de Osasco à morte de um colega durante um roubo a um posto de combustível dias antes.

A PM realizou entre os dias 22 e 23 uma série de buscas e apreensões na casa de PMs suspeitos de participação no crime. Foram apreendidos objetos como armas, pendrives e até documentos de foragidos da Justiça.

De acordo com a presidente da associação dos delegados, Marilda Pansonato Pinheiro, esses ações ocorreram sem o aval da força-tarefa e podem ter prejudicado o resultado das investigações.

O governo Geraldo Alckmin (PSDB) nega problemas e diz que há uma cooperação mútua entre as polícias.


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