Folha de S. Paulo


Sul do Brasil deve ter chuvas fortes e desastres, prevê instituto

A previsão climática feita pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) para os próximos três meses alerta para a intensificação das chuvas na região Sul do Brasil. Elas devem ocorrer principalmente em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, com risco de enchentes e deslizamentos.

"As pessoas dessa região devem se preparar, porque são esperadas chuvas intensas até o mês de novembro, podendo se prolongar para dezembro e até o início do próximo ano. Serão eventos extremos de chuva", disse o pesquisador do Inpe Gilvan Sampaio, que coordenou o estudo finalizado na terça (25).

Este ano, ao menos cinco mortes foram registradas na região Sul do país em decorrência de chuvas e tornados: uma no Paraná e quatro em Santa Catarina. No mês passado, 26 municípios gaúchos decretaram situação de emergência e cerca de 40 mil pessoas foram afetadas.

Já nesta quinta-feira (27), um temporal atingiu Curitiba durante a madrugada e atingiu ao menos 3.000 pessoas. A capital paranaense acordou com trânsito caótico e falta de energia. De acordo com boletim da Defesa Civil Estadual, 15 municípios foram atingidos pela chuva e por ventos.

A explicação para as chuvas está no fenômeno El Niño, que se configurou no mês de abril e deve se intensificar até o final do ano. O fenômeno promove o aquecimento das águas do oceano Pacífico, alterando o clima, e não tem relação com o efeito estufa.

De acordo com Gilvan Sampaio, os alertas já foram distribuídos a todos os governos, de forma a preparar ações para minimizar os efeitos negativos dos temporais. A previsão climática, diferente da previsão do tempo, tem como objetivo antever os efeitos do clima por um período mais longo.

Além de pesquisadores do Inpe, participam do estudo técnicos e especialistas do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) e do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia). Todos os órgãos são ligados ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Segundo a previsão climática, as chuvas também devem ser de normal a acima da média no extremo oeste do Amazonas e abaixo da média no extremo norte do país. Para o Nordeste, a previsão é de continuidade da seca. Já para o Sudeste e Centro-Oeste, as temperaturas devem continuar elevadas.

CRISE HÍDRICA

O Inpe não fez o estudo climático para os Estados do Sudeste e do Centro-Oeste porque essas regiões estão numa área de difícil previsibilidade. No caso de São Paulo, que sofre com a crise hídrica, não há dados que possam indicar a ocorrência de chuvas, a não ser por frentes frias ou elevação da umidade.

"A única coisa que dá para dizer é que as temperaturas serão mais altas. Se alguém fala que vai chover, é por pura especulação, porque a característica da região é de chuvas vindas seja por frente fria ou pancadas provocadas pela umidade. O clima tem sua variabilidade", disse Sampaio.

Sobre a crise hídrica, ele afirmou que a maior lição que se pode tirar da falta de chuvas é a necessidade de planejamento. "Estiagens já ocorreram no passado. O problema é de gestão, e não climático", disse o pesquisador.


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