Folha de S. Paulo


De presa a predador: Alta de ciclistas em SP complica relação com pedestres

Zanone Fraissat/Folhapress
Em outro cruzamento da avenida, ciclista não respeita sinal dos carros e avança no trânsito
Em outro cruzamento da avenida, ciclista não respeita sinal dos carros e avança no trânsito

Caminhão anda por onde não pode, ônibus fecha carro, que fura o farol vermelho e bloqueia o cruzamento. Moto se espreme nos corredores, bicicleta invade a calçada, e pedestre atravessa fora da faixa. É difícil encontrar um santo no trânsito de São Paulo.

Com a proliferação de ciclovias, no entanto, um dos elos da cadeia de mobilidade urbana que sempre foi e continua a ser presa de veículos motorizados, aos poucos, se torna também predador.

"Vejo muito ciclista equipado furando farol vermelho e queimando faixa de pedestre", observa Jones Mesquita, 30, entregador com bicicleta há oito anos. "Eles se esquecem de que bike não é carro, mas também machuca."

Menos de 2% dos acidentes com vítimas em São Paulo têm o envolvimento de ciclistas. Ainda assim, na segunda, dia 17, um homem de 78 anos morreu após ser atropelado por um ciclista embaixo do Minhocão.

Durante 15 minutos de observação da ciclovia da Paulista, a Folha presenciou, em frente ao Masp, dois ciclistas cruzando a faixa de pedestres no intervalo de travessia, outro pedalando sobre a faixa, como se fosse um pedestre, e um quarto conduzindo a bicicleta na contramão.

Esses comportamentos estão em desacordo com o Código Brasileiro de Trânsito.

"É preciso inserir a bicicleta no contexto de educação para a mobilidade porque, durante um século, só organizamos, regulamos e educamos o automóvel", critica Thiago Benicchio, do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP Brasil). "O desenho da cidade ainda é muito desfavorável para o pedestre", avalia.

Zanone Fraissat/Folhapress
Ciclista fura farol específico e invade travessia de pedestres na av. Faria Lima, zona oeste
Ciclista fura farol específico e invade travessia de pedestres na av. Faria Lima, zona oeste

Marina Kohler Harkot, 23, do grupo de estudos de mobilidade Apé, diz que há quem "carregue para a bicicleta a lógica de onipotência, velocidade e desrespeito ao pedestre típica dos carros". Para ela, atitudes como furar o farol vermelho ou atravessar na faixa de pedestres são, no entanto, necessárias para a autopreservação do ciclista.

"Parece mesmo que os ciclistas querem se impor porque são muito desrespeitados pelos carros. Mas, com isso, é o pedestre quem está cada vez mais acuado", avalia Caio César, 27, executivo de contas, em cima de sua bicicleta.

"Ciclista tem que saber que pedestre é prioridade sempre", diz José Eduardo Daros, 80, presidente da Associação Brasileira de Pedestres.

Para Letícia Sabino, 26, da ONG SampaPé, "é a falta de investimento público no planejamento da mobilidade a pé que contribui para a confusão sobre quem é prioridade no trânsito". "Com isso, todos mundo se julga prioridade e não se importa com o outro."

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DEZ MANDAMENTOS DO CICLISTA CIDADÃO

Preferência
Dê total preferência para o pedestre sempre

Calma
Reduza a velocidade ao se aproximar da faixa de pedestres

Na linha
Ande em linha reta, sem mudanças bruscas de sentido

Controle
Mantenha sempre as duas mãos no guidão

Sinal
Sempre que possível, sinalize conversões com as mãos

Seja visto
Utilize iluminação traseira e dianteira e/ou colete refletivo

Calçadas
Evite-as. Faça-o só em locais onde não houver ciclovia ou ciclofaixa e onde o volume de pedestres for pequeno

Não ande na contramão
Você atrapalha outros ciclistas e pode surpreender motoristas e pedestres

Desmonte
Para atravessar a rua pela faixa de pedestres, desmonte da bicicleta e empurre-a a pé de uma calçada a outra

Fones
Sons são informações para sua segurança e dos outros, evite usar fones de ouvido


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