Folha de S. Paulo


Opinião

Ciclovias não são esquerdismo, elas seriam feitas por qualquer prefeito

Qualquer prefeito que ocupasse o cargo neste mandato implantaria a rede de ciclovias que está sendo criada pela gestão de Fernando Haddad.

Na campanha eleitoral de 2012, todos os candidatos mais fortes andaram de bicicleta e prometeram multiplicar as rotas para bike na cidade. Trabalhavam sobre um plano produzido por sucessivas administrações municipais, de diferentes partidos.

Ou seja, não há improviso nem voluntarismo de Fernando Haddad. Talvez o pecado da atual gestão seja querer fazer crer que inventou a bicicleta e iniciou uma tendência mundial. É um problema de marketing exagerado, não de concepção de mobilidade.

Tampouco se pode associar a realização de ciclovias a esquerdismo, como fazem petistas e adversários. A administração Paulo Maluf (1993-96), conservadora, consolidou um plano de 300 km e iniciou sua implantação (ele está incorporado no atual conjunto de 400 km).

Na gestão Serra-Kassab, que petistas combatem, foram produzidos planos que somados chegavam a cerca de 1.000 km de ciclovias e 400 km de ciclorrotas (sem segregação).

Esse mapa norteou o plano de mobilidade que Haddad levou ao Ministério das Cidades, para implantação até a próxima década.

Daniel Guth, consultor de mobilidade e ciclista, lembra que a ciclovia da Faria Lima foi concebida em 1980 (administração Reynaldo de Barros, malufista); foi implantada por Kassab, que dizia não ser "nem de direita, nem de esquerda".

Há defeitos pontuais no conjunto de ciclovias implantado, certamente.

No caso daquelas onde ocorreram acidentes nos últimos dias, a de São Mateus (zona leste) ficaria melhor se tivesse mais segregação; a sob o Minhocão tem pontos que produzem confusão entre pedestres e ciclistas, além de parecer apertada demais ao lado das colunas de sustentação do elevado. Mas isso são questões que podem ser melhoradas, não põem em xeque a política municipal e nem mesmo as duas rotas.

A partir dos anos 1960, quando desmontou a eficiente rede de VLTs (chamados bondes), a Prefeitura de São Paulo cometeu o crime de privilegiar o carro sobre todas as outras formas de mobilidade.

Isso criou os congestionamentos monstruosos que se tornaram a principal causa de estresse para 80% de seus moradores, segundo a pesquisa publicada no guia "Como Viver em São Paulo Sem Carro - 2014".

Agora, é preciso desmontar a quimera. E o único jeito é desincentivar a circulação de automóveis: bloquear áreas, reduzir velocidade, eliminar faixas, fechar ruas e criar ciclovias, entre outras medidas que irritam os que acham que carro é sinônimo de mobilidade. Eles resistem. Precisam ser convencidos.


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