Folha de S. Paulo


Enterro de vítimas de chacina tem clima de descrença na Justiça em SP

Ao menos 13 das 18 vítimas da chacina que aconteceu na noite de quinta (13), na região metropolitana de São Paulo, foram enterradas na manhã deste sábado (15). Seis aconteceram no cemitério Santo Antônio, em Osasco, e outras sete no cemitério municipal Álvaro Quinteiro Vieira, em Barueri.

Em Osasco, os caixões foram baixados com gritos pedindo justiça, mas alguns parentes e familiares dizem estar pouco confiantes na possibilidade de que os assassinos sejam encontrados e julgados.

"Se quisessem encontrar [os autores dos crimes], já teriam achado e pegado os caras. A investigação não vai dar nada", diz Pedro de Oliveira, 27, primo de Igor Oliveira, 19, morto em Osasco. O pai de Igor, Carlos Antônio de Oliveira, também afirma que o caso ficará impune.

Parentes comentavam terem ouvido boatos sobre a identidade dos assassinos. Carlos cita um vídeo que é repassado por um aplicativo de celular em que um homem mascarado afirma que 42 pessoas serão assassinadas em retaliação à morte do cabo da PM Avenilson Pereira de Oliveira, que tinha 42 anos.

A possibilidade de que os assassinos sejam PMs é comentada por alguns parentes de vítimas, mas outros evitam falar nisso.

"Meu irmão foi vítima de qualquer coisa, ele não tinha vínculos com nada e não posso afirmar nada [sobre os autores]", diz Jorge Henrique Lopes Ferreira, 31, irmão de Deivison Lopes Ferreira, 26, também vítima.

"A família não sabe se foram policiais e se falarmos algo que não é verdade podemos sofrer represálias", afirmou a irmã de uma outra vítima, Jonas dos Santos Soares.

Também foram enterrados no cemitério Santo Antônio, em Osasco, Presley Santos Goncalves, Rodrigo Lima da Silva e Eduardo Bernardino César.

BARUERI

O cemitério municipal Álvaro Quinteiro Vieira, em Barueri, terá mais sete enterros de vítimas da chacina neste sábado. Cinco aconteceram pela manhã e os outros dois à tarde.

O primeiro enterro foi de Wilker Thiago Corrêa Osório, 29, por volta das 9h. Bastante emocionada, a mãe dele, Rosa Francisca Corrêa, disse estar "acordada e chorando desde ontem".

Eduardo Oliveira Santos também foi enterrado no cemitério municipal Álvaro Quinteiro Vieira com membros do terreiro de candomblé Ilê Axé Oxum Femi, que ele frequentava. Todos de branco, eles cantaram músicas que fazem parte do ritual de despedida da religião.

"Foi muito rápido e muito trágico", afirmou Alberto Martins, irmão de Fernando Luiz de Paula, também vítima da chacina. "Ele estava no lugar errado e na hora errada", completou.

Do lado do velório, amigos de Fernando viam fotos das vítimas no celular. "Quem passou por lá tirou foto e mandou pelo WhatsApp", conta Antônio Paulo, vizinho e amigo de Fernando.

Além de Wilker Thiago Corrêa Osório, Eduardo Oliveira Santos e Fernando Luiz de Paula, também foram enterrado no mesmo cemitério Thiago Marcos Damas, Jailton Vieira da Silva, Manuel dos Santos e Antônio Neves Neto.

VIOLÊNCIA

A série de ataques que levou às 18 mortes aconteceram em cerca de três horas nas cidades de Osasco e Barueri. Além das mortes, também ficaram feridas outras seis pessoas.

Na sexta (14), o secretário de Segurança Pública, Alexandre de Moraes, afirmou que a principal linha de investigação da polícia envolve a participação de policiais militares no crime. A hipótese é que tenha sido uma retaliação ao assassinato de um PM, na semana passada, em Osasco. O policial foi baleado ao reagir a um assalto, em um posto de combustíveis da cidade.

A suposta participação de policiais nos assassinatos colocou o comando das corporações sob alerta. Os efetivos foram colocados de prontidão e reforçados na região metropolitana, para reagir a eventuais retaliações de criminosos a carros ou bases policiais nas próximas noites e madrugadas.

As ações foram semelhantes. Homens encapuzados estacionaram um carro, desembarcaram e dispararam vários tiros contra as vítimas. Em alguns locais dos crimes, testemunhas disseram que os assassinos perguntaram por antecedentes criminais, o que definia vida ou morte das pessoas.

Cápsulas de quatro diferentes calibres de armas foram encontradas em oito dos dez locais onde ocorreram ataques, segundo laudo parcial do IC (Instituto de Criminalística). São eles: 9 mm (de uso das Forças Armadas), 38 e 380, de uso de guardas civis metropolitanos, e 45 (de uso restrito).

A SSP (Secretaria de Segurança Pública) afirmou, em nota, que o reforço no policiamento será mantido na região com 43 viaturas da Rota (tropa especial da Polícia Militar), do COE (Comando de Operações Especiais) e da Força Tática, "totalizando 83 PMs, para garantir a segurança da população".

Clique no infográfico: Números de homicídios na região

Veja vídeo

O vídeo foi veiculado no telejornal "Bom Dia Brasil", da TV Globo

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VEJA O NOME DAS VÍTIMAS DA CHACINA
Dos 18 assassinados, apenas seis tinham antecedentes criminais, segundo o governo

- Adalberto Brito da Costa, tinha passagem na polícia por furto;

- Antônio Neves Neto, 40;

- Deivison Lopes Ferreira, 26;

- Eduardo Bernardino Cesar, 26;

- Eduardo Oliveira Santos, 41;

- Fernando Luiz de Paula, 34;

- Igor Silva Oliveira, 19;

- Jailton Vieira da Silva, 28, tinha antecedente criminal por roubo e tentativa de homicídio;

- Jonas dos Santos Soares, 33;

- Joseval Amaral Silva, 37;

- Leandro Pereira Assunção, 36, tinha antecedente criminal por roubo;

- Manuel dos Santos, 37;

- Presley Santos Gonçalves, 26, tinha passagem na polícia por receptação;

- Rafael Nunes de Oliveira, 23;

- Rodrigo Lima da Silva, 16, havia cometido um ato infracional;

- Tiago Teixeira de Souza;

- Thiago Marcos Damas, 32;

- Wilker Thiago Corrêa Osório, 29, já havia cumprido pena por tráfico de drogas.

Editoria de Arte/Folhapress
Mapa das mortes em Osasco e Barueri
Mapa das mortes em Osasco e Barueri

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