Folha de S. Paulo


UPP no Alemão troca contêiner por bunker com buracos para apoiar fuzil

Ricardo Borges/Folhapress
Buracos para apoiar fuzis na base da UPP de Nova Brasília, no Complexo do Alemão, zona norte do Rio; maioria das unidades são de metal e vidro
Buracos para apoiar fuzis na base da UPP de Nova Brasília, no Complexo do Alemão, zona norte do Rio

A 600 metros de um teleférico, em frente a uma pracinha com mesas para jogar xadrez, casas e um supermercado, está uma construção sem janelas, com paredes brancas reforçadas por concreto grosso e pequenos buracos da largura dos tijolos.

Por eles, além de ver o que se passa do lado de fora, policiais militares apoiam seus fuzis em direção à comunidade, como num bunker.

Essa é a nova base da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Nova Brasília, no Complexo do Alemão –formado por 15 favelas e 5 UPPs.

Funcionando há um mês na praça do Cruzeiro, que divide duas favelas, o bunker substitui um contêiner de aço. Tamanha diferença com a base antiga causou a indignação dos moradores da favela na zona norte.

"Isso é área residencial. Me sinto ameaçada. Você gostaria de ter um fuzil atirando para todos os lados no seu quintal, a esmo?", afirmou uma moradora, que pediu anonimato. "Tenho medo que me façam algo."

Uma estudante, que também não quis se identificar, disse que "aperta o passo ao passar em frente à base". "Vai que alguém atira neles. Eles estão lá dentro e revidam. Eu que não vou ficar dando mole aqui", afirmou.

O Comando de Polícia Pacificadora confirmou a existência dos buracos de apoio para fuzil. No entanto, afirmou que os agentes possuem plena visão do lado exterior.

Em 2014, cerca de 50 policiais foram baleados no Complexo do Alemão. Entre eles o comandante da UPP Nova Brasília, capitão Uanderson Manoel da Silva, 34, morto em um ataque de traficantes.

A comunidade é uma das mais perigosas para um policial –quatro já morreram em tiroteios desde 2012, ano de inauguração da UPP.

O clima de tensão e afastamento dos policiais, que deveriam empregar a estratégia de proximidade com os moradores, fica evidente quando dois saem do bunker.

Sem tirar o dedo do gatilho do fuzil, um deles tira do caminho dois tonéis que servem de barricada na entrada. O outro o segue, segurando a pistola dentro do coldre. Nenhum dos moradores faz menção de cumprimentá-los. Passam de cabeça baixa.

A construção das novas bases foi anunciada em abril. A justificativa foi a reorganização do projeto, após ataques.

Além desse bunker, a sede da UPP, aos pés do teleférico, foi fortificada. Outras duas cabines blindadas foram instaladas. Há ainda a previsão de instalação de mais cabines nos próximos meses.

A nova arquitetura contrasta com as sedes das UPPs, como a do próprio Alemão, que possui fachada de vidro. Erguida em 2012, quando os ataques não eram frequentes, o uso do vidro foi incorporado para mostrar a proximidade com a população.

Na época, cogitou-se até construir o novo Quartel General da Polícia com fachada transparente e sem divisórias, seguindo o mesmo conceito. O projeto não vingou.

PRISÕES

Também na zona norte, policiais do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) prenderam nesta terça-feira (11) os traficantes Ricardo Chaves de Castro Lima, 44, e Cláudio José de Souza Fontarigo, 45, conhecidos como Fu da Mineira e Claudinho, respectivamente.

Fu é considerado um dos principais líderes do Comando Vermelho. Em 2009, ele comandou uma série de ataques a ônibus e delegacias no Rio. Já Claudinho, seu primo, foi considerado nos anos 1990 um dos principais sequestradores da cidade.

No Morro da Mangueira, o confronto entre traficantes e policiais da UPP local acabou com a morte de um morador, Alberto Coelho de Medeiros, 22, e com um policial baleado de raspão na cabeça.


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