Folha de S. Paulo


Enterro de Playboy tem coroas de flores de traficantes e ônibus fretados

Cinco ônibus levaram moradores do morro da Pedreira, zona norte do Rio, ao enterro do traficante Celso Pinheiro Pimenta, 33, conhecido como Playboy, neste domingo (9).

Considerado um dos criminosos mais procurados do Rio, Playboy foi morto por policiais no sábado (8), no morro da Pedreira, de onde chefiava o tráfico de drogas pela facção conhecida como ADA (Amigos dos Amigos) e uma quadrilha de roubo de cargas.

O apelido Playboy era uma referência ao fato de ter nascido em família de classe média e estudado em colégios particulares de Laranjeiras, zona sul do Rio.

O enterro ocorreu às 15h, no cemitério do Catumbi, centro do Rio. O local fica aos pés dos morros da Mineira, Coroa e São Carlos, comunidades controladas pela facção que era chefiada por Playboy e que enviou três coroas de flores ao local.

O velório teve um total de três mil flores, distribuídas em sete grandes coroas, em um padrão pouco visto no cemitério. A Folha apurou que os arranjos usados não constavam do catálogo da floricultura local e cinco deles foram encomendados especialmente para a ocasião pelos traficantes.

Nas faixas dos arranjos está escrito "saudades dos Amigos", em alusão à facção criminosa. Cada arranjo, de 1,10 metro de diâmetro, custou R$ 500.

A funerária São Geraldo, responsável pelo enterro, não quis divulgar o preço do caixão, mas um funcionário afirmou que é um dos mais caros. "[Custou] Entre R$ 10 e R$ 20 mil. Conta com madeira nobre, e o pagamento foi em dinheiro", disse ele, que pediu anonimato.

Playboy foi sepultado em um túmulo individual, ao custo de R$ 550, o mais caro para quem não dispõe de jazigo no cemitério.

Cinco ônibus foram fretados para levar moradores das favelas Pedreira e da Lagartixa ao enterro. A Polícia Militar reforçou a segurança no cemitério já que traficantes presos, que receberam indulto de dia dos pais, poderiam comparecer ao local.

Divulgação/ SSP Rio de Janeiro
Polícia mata traficante Playboy, o mais procurado do Rio de Janeiro
Polícia mata traficante Playboy, o mais procurado do Rio de Janeiro

Playboy era considerado um traficante carismático por moradores das favelas em que atuava. Costumava distribuir remédios, botijões de gás e cestas básicas à população. Uma recompensa de R$ 50 mil por informações que levassem a sua captura era oferecida pelo Disque Denúncia.

O traficante possuía um perfil na rede social, onde interagia com moradores e fazia enquetes com traficantes do seu bando sobre quais comunidades deveriam invadir.

Também em redes sociais, ele costumava chamar traficantes de facções rivais para o seu bando e criou o bordão "vem que o muro está baixo", para dizer que não haveria resistência caso alguém quisesse mudar de facção.

Gostava de se relacionar com menores de idade. Sua morte ocorreu na casa de uma das namoradas, de 14 anos. Segundo a polícia, o traficante reagiu à aproximação policial e foi morto com dois tiros.

CRIMES

Quando serviu ao Exército, Playboy roubou armas e munições do paiol e entregou a traficantes do morro do Dendê, zona norte do Rio, onde virou gerente do tráfico, aos 19 anos.

O traficante era acusado de comandar ações ousadas, como o roubo de 193 motos em um depósito do Estado, em dezembro de 2014. As motocicletas estavam dentro de um depósito de uma empresa que presta serviço para o Detro (Departamento de Transportes Rodoviários do Estado do Rio), órgão do governo do Estado.

No mesmo ano, expulsou cerca de 80 famílias de um conjunto do programa Minha Casa Minha Vida. Os apartamentos foram ocupados pelos bandidos.

Ele foi condenado a 15 anos e oito meses de prisão por tráfico de drogas, roubo e homicídio qualificado. Há seis meses, disse à revista "Veja" que pensava em se entregar. "Todas as informações que eu tenho são de que a polícia não quer me prender, quer me matar", afirmou na época.

INDENIZAÇÃO

Ao jornal "Extra", um tio de Playboy identificado como Cosme Pinheiro afirmou que a morte do sobrinho foi uma execução e que "a família vai entrar com uma ação contra o Estado".

Segundo a publicação, Pinheiro afirmou que a polícia foi à favela para matar o criminoso, que tinha o direito de ficar vivo e pagar pelo crime.

O tio ainda disse que Playboy não era covarde, tinha o coração bom e ajudava a comunidade. "Tinha um lado ruim, sim, mas tinha um lado bom. As pessoas só veem o lado ruim", disse.


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