Folha de S. Paulo


Obra para evitar rodízio esbarra em capivara, chuva e até prefeito tucano

Nas últimas duas semanas, um grupo de operários contratados pela Sabesp vai todos os dias para o canteiro de obras, veste seus uniformes, verifica os equipamentos e apenas espera o dia passar.

Sem trabalhar, eles aguardam autorização da Prefeitura de Rio Grande da Serra para avançar com os dutos que irão transportar água do cheio reservatório Rio Grande para o crítico Alto Tietê.

A obra é a principal aposta do governo Geraldo Alckmin (PSDB) para evitar um rodízio de água na Grande SP nos próximos meses –a água que chegar ao Alto Tietê também será usada para abastecer residências atendidas pelo Cantareira, o maior manancial e próximo a um colapso.

"Quando liberarem, a gente termina o serviço em dois dias. Mas, até lá, a gente tem que esperar", disse um dos funcionários terceirizados.

A novela para a autorização tem um motivo: o prefeito Gabriel Maranhão, filiado ao PSDB, mas eleitor declarado da presidente Dilma, quer evitar que os dutos bloqueiem uma avenida local –os dois lados buscam um acordo.

Esse, porém, é apenas um dos entraves dessa obra. A Sabesp tem de lidar ainda com chuvas acima da média na região do ABC, dificuldade de autorização de moradores locais para a passagem dos canos e até morte de capivaras.

Editoria de Arte/Folhapress

TORCIDA PELA SECA

Na cúpula da Sabesp, a torcida é por mais chuvas para encher as represas. No local dessa obra, porém, operários esperam um período seco.

Isso porque as chuvas de julho interromperam algumas vezes o avanço das obras, como relatam operários que agora atuam na construção de uma estação elevatória (espécie de bomba hidráulica).

No total, serão 10 km de dutos, parte disso em cima das águas do Rio Grande. Nesse trecho, há duas semanas, um grupo de ambientalistas encontrou uma capivara morta entre os tubos da Sabesp.

O grupo questiona a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) por não ter exigido um estudo detalhado de impacto ambiental.

Por sua vez, o órgão diz que classificou a obra como de curto prazo e de baixo impacto ambiental, por isso não exigiu estudos mais rigorosos.

Já em um trecho da obra onde os tubos passarão por sítios e chácaras, a Sabesp teve dificuldade de encontrar os donos dessas propriedades.

A empresa teve de ir a cartórios para ter informações sobre os proprietários. Sem falar com eles, não poderia dar continuidade às obras.
desconfiança

Além dessas barreiras, a obra causa desconfiança nos moradores da região.

"Não acho certo essa história de tirarem água da gente e mandar para os outros. E a gente corre o risco de ficar sem?", questiona Fernanda dos Santos, 42, que passa todos os dias pela obra.

A transposição do Rio Grande para o Alto Tietê foi prometida por Alckmin em janeiro. Na ocasião, disse que seria concluída em maio.

Naquela época, porém, o governador não tinha nenhuma licença ambiental, nada de acordos com os moradores e os tubos também não haviam sido comprados.

A obra só começou em abril, época na qual a Sabesp disse que entregaria a interligação no mês de agosto.

Atualmente, esse prazo já foi esticado. A Sabesp informou que 75% dos tubos estão instalados e que entregará a obra até o mês de setembro.

O governo descarta um rodízio neste ano, mas depende da conclusão dessa obra para manter a promessa.


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