Folha de S. Paulo


Transporte pesa mais no bolso do que padaria, diz secretário de Haddad

O secretário municipal de Desenvolvimento Urbano de São Paulo, Fernando Mello Franco, principal responsável pela nova lei de zoneamento, diz que o custo de vida alto para moradores de condomínios populares pode ser compensado pela economia nos transportes.

Por telefone, ele falou à Folha sobre a discussão das novas Zeis (zonas especiais de interesse social) na cidade.

Eduardo Knapp - 01.fev.2013/Folhapress
O secretário de Desenvolvimento Urbano da gestão Fernando Haddad (PT), Fernando de Mello Franco, 48
O secretário de Desenvolvimento Urbano da gestão Fernando Haddad (PT), Fernando de Mello Franco

*

Folha - Moradores mais pobres que vivem em áreas com custo de vida maior não conseguem se manter nesses locais. Como a prefeitura pretende contornar esse problema?
Fernando Mello Franco - O direito à moradia é universal, reconhecido pela ONU. E não é só a casa, é a localização, a disponibilidade de serviço e a infraestrutura. Existe, sim, o impacto no custo de vida nesses casos. Mas hoje o principal impacto na cesta de custos da população de baixa renda talvez não seja a padaria, mas o transporte. A pessoa que mora longe do trabalho gasta muito com transporte. Nós estamos trabalhando em estratégias que possibilitem o abastecimento de itens básicos, aqueles que vêm da agricultura familiar e orgânica. Isso minimizaria o custo de vida.

O modelo de habitação social de SP, principalmente na década de 70, construiu grandes condomínios em bairros distantes. Foi um erro?
Sim, criaram grandes condomínios como os de Cidade Tiradentes [extremo da zona leste]. A premissa era expulsar a classe trabalhadora de bairros já consolidados.

Algumas associações de moradores que são contra as Zeis em seus bairros dizem que moradia social pode desvalorizar imóveis que já existem.
Não existe pesquisa de mercado que indique isso. O Jardim Edite não desvalorizou a avenida Luís Carlos Berrini, que continua com um dos metros quadrados mais caros da cidade.

Elas também afirmam que pode aumentar a criminalidade, pois, com os moradores mais pobres, viriam também bandidos.
Há Zeis que visam o mercado popular, com faixa de até dez salários mínimos. Conheço muitos professores da USP que estão dentro dessa faixa. Ter um professor da USP traz insegurança? Não sei se é a faixa de renda que traz criminalidade. Grande parte das páginas policiais nos últimos meses não está sendo ocupada por pessoas de baixa renda [em referência à Operação Lava Jato, que prendeu grandes empresários].

Ter uma Zeis no bairro significa que aquela área será desapropriada?
Não. O único intuito dessa demarcação é que, em um momento futuro, aquela área possa ser transformada. Mas não são só as Zeis que determinam isso. Qualquer um pode ser desapropriado para a abertura de uma rua.

Clique na infografia: Zeis de São Paulo


Endereço da página: