Folha de S. Paulo


Violência no Rio cresce, e polícia encolhe a um ano da Olimpíada

A piora de vários indicadores de violência no Rio revela, a um ano da Olimpíada, um quadro de desgaste da política de Segurança Pública do Estado, baseada nas chamadas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora).

Segundo dados do ISP (Instituto de Segurança Pública), houve aumento de crimes associados à sensação de insegurança, como vítimas de balas perdidas, assaltos com facas e roubos de celulares.

Se comparados os dados dos biênios 2014/15 com os de 2011/12, quando a cidade vivia um clima de confiança após grandes ocupações de favelas pelas Forças Armadas, os números são ainda mais discrepantes.

Na soma do primeiro quadrimestre de 2011 com o de 2012, houve 73.452 assaltos. No mesmo período de 2014 e 2015, foram 107.194.

BALEADOS

De janeiro a junho, 108 policiais foram atingidos por tiros no Rio, quase metade em áreas onde há UPPs, e 43 morreram. No primeiro semestre de 2014, houve 61 baleados.

Também foi registrado aumento no número de pessoas atingidas por balas perdidas: 86 nos primeiros seis meses de 2015 ante 23 no mesmo período do ano passado.

De acordo com números divulgados pelo ISP, a cada dois dias uma pessoa é vítima de bala perdida no Estado.

Segundo cálculos da própria PM, 1.500 policiais deixam a instituição anualmente. Em oito anos, a corporação perdeu cerca de 12 mil homens, por motivos como morte, expulsão e demissões voluntárias.

No mesmo período, o governo contratou 9.000 policiais, todos destinados às UPPs. Ou seja, além do déficit de 3 mil PMs, houve uma diminuição ainda maior no patrulhamento das ruas.

Em junho, o Exército retirou 3.010 militares que ocupavam o complexo de favelas da Maré, na zona norte da cidade. Foram deslocados para lá 400 policiais militares.

A falta de recursos se soma ao conjunto de problemas enfrentados pelas corporações. Tanto a PM quanto a Polícia Civil passaram a cortar despesas que afetam a capacidade de policiamento. Por dia, cada automóvel não pode gastar mais do que 30 litros de gasolina. Desse modo, a PM deixa hoje cerca de 200 carros e 200 motos paradas.

A Folha ainda apurou que policiais de UPPs chegam a pagar do próprio bolso a manutenção das motocicletas para patrulhar comunidades.

Editoria de Arte/Folhapress

QUEDA NOS ROUBOS

O total de roubos a pessoas caiu nos primeiros cinco meses de 2015, com 38.423 registros, contra 39.771 no mesmo período de 2014.

O número inclui roubos de celulares, ação em que é comum a vítima ser agredida. De janeiro a junho, 4.582 pessoas tiveram seus aparelhos roubados no Rio. No mesmo período de 2014, foram 2.585.

Apesar da queda no total de assaltos registrados na cidade, a insegurança aumentou também pela mudança de abordagem dos criminosos: foram muitos os casos de agressão com faca.

Em 7 de maio, um homem recebeu várias facadas quando estava em um ponto de ônibus no centro da cidade. Dez dias depois, uma turista foi esfaqueada em um assalto na mesma região.

O caso mais grave ocorreu logo em seguida: em 20 de maio, o médico Jaime Gold, 57, morreu esfaqueado quando andava de bicicleta na Lagoa Rodrigo de Freitas (zona sul), cartão postal do Rio.

OUTRO LADO

O Rio está preparado para receber a Olimpíada, afirma o subsecretário estadual de Grandes Eventos, Roberto Alzir. Segundo ele, o efetivo das polícias está sendo ampliado.

"Somado ao acúmulo de experiência oriundo dos eventos anteriores, a cidade nunca esteve tão bem preparada para esse desafio", disse Alzir. Ele menciona uma série de ações, como investimentos em equipamentos e tecnologia, capacitação e inteligência.

Segundo o subsecretário, um relatório de análise de risco está sendo produzido para orientar o planejamento.

Em nota, a Polícia Militar informou que "tem investido em treinamento e capacitação da tropa, que abrange parceria com o governo federal e intercâmbio com polícias de outros países".

A PM afirmou que há um processo de seleção em curso para ingresso de 6 mil novos policiais, e diz que "não houve corte de verbas para manutenção de viaturas nem tampouco para combustível."

A Polícia Civil não respondeu sobre casos atuais de violência. Informou apenas que já investiga crimes relacionados aos Jogos, como fraudes de ingressos ou cambismo.

Procurado pela reportagem, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, não retornou.


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