Folha de S. Paulo


Ministério Público investiga obras antirrodízio na Grande SP

Fabio Braga - 20.abr.2015/Folhapress
Córrego Taiaçupeba-Mirim, no extremo leste de SP, que receberá água da Billings
Córrego Taiaçupeba-Mirim, no extremo leste de SP, que receberá água da Billings

O Ministério Público abriu inquérito para apurar eventuais irregularidades na principal obra antirrodízio da região metropolitana de São Paulo: a ligação por meio de adutoras entre a represa Billings e o sistema Alto Tietê.

Diante dessa investigação, a Sabesp, empresa de água do governo paulista, mobilizou técnicos para responder aos questionamentos da Promotoria e agora teme pela eventual paralisação da obra. O objetivo do projeto é retirar água de um reservatório cheio (a Billings) e levá-la para mananciais críticos.

Essa água chegará a rios do sistema Alto Tietê, no extremo leste da Grande SP, e depois poderá ser empurrada para socorrer residências dos lados leste e norte da capital antes abastecidos pelas represas do Cantareira, o maior reservatório e que hoje opera com água do fundo das represas.

Orçada em R$ 130 milhões, essa obra é considerada pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB) como a mais importante do ano para que o risco de rodízio não cresça até a próxima temporada chuvosa, prevista para o final do ano.

Quando estiver pronta, o que deve ocorrer até setembro segundo o governo, um volume de 4.000 litros de água por segundo vai percorrer 22 km entre os dois sistemas, parte disso em novas adutoras. Nessa obra, o núcleo ambiental do Ministério Público teme que ocorra a transferência de um sistema com água suja para outra represa com água de boa qualidade.

Na versão da Promotoria, que será rebatida pelos técnicos do governo, as águas da Billings, misturadas às do Pinheiros e, portanto, bastante poluídas, seriam jogadas nas águas de melhor qualidade de outros rios e represas.

O sistema Alto Tietê, porém, que abastece municípios do extremo leste da Grande SP, como Suzano e Mogi das Cruzes, além de bairros da zona leste da capital, tem maior capacidade para o tratamento de água em suas estações. Por isso, a importância da transposição, segundo técnicos do governo paulista.

Braço da Billings, o sistema Rio Grande, de onde vai sair a água, quase sempre está com suas represas cheias. Mas a capacidade de tratamento de água é mais baixa.

Editoria de arte/Folhapress

RITO AMBIENTAL

Outro problema considerado pelo Ministério Público é o tipo de licenciamento ambiental obtido pela Sabesp. Por ser considerada como uma ação emergencial, o projeto passou por um rito simplificado de licenciamento, sem a elaboração de um estudo de impacto ambiental, fato que incomoda o promotor Ricardo Manuel Castro.

Em recente entrevista à Folha, o secretário estadual Benedito Braga (Recursos Hídricos) disse que o governo paulista teve de escolher entre levar água para a população ou respeitar o rito ambiental tradicional para dar andamento a obras emergenciais.

"Se fossem respeitados os ritos, não teríamos condições de prover essa água à população em julho [de 2015]", afirmou, em março passado.

No inquérito civil do Ministério Público, outras três obras estão sendo investigadas. Duas obras, nos rios Guaratuba e Guaió, estão prontas e já foram entregues neste primeiro semestre. A transposição dos rios Itatinga e Itapanhaú, na região de Biritiba-Mirim, está em estudo.


Endereço da página:

Links no texto: