Folha de S. Paulo


Promotoria denuncia mais 2 suspeitos de participar da morte de Eliza

O Ministério Público de Minas Gerais denunciou (acusação formal) mais duas pessoas sob suspeitas de participar do assassinato da ex-amante do goleiro Bruno Fernandes Eliza Samudio, morta em 2010.

A Promotoria ofereceu denúncia contra os policiais civis José Lauriano de Assis Filho, 50, conhecido como Zezé, –já é aposentado–, e de Gilson Costa, 48, que ainda exerce a função.

De acordo com o promotor Daniel Saliba de Freitas, Zezé participou no dia 4 de junho de 2010 do sequestro de Eliza Samudio e de seu filho –na época com quatro meses– a mando do goleiro Bruno, e de Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão.

Segundo a denúncia, o policial manteve Eliza em cárcere privado, com ajuda do adolescente Jorge Luiz Lisboa Rosa, até o dia 10 de junho, quando ela foi levada para ser assassinada por Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola. A Promotoria também cita a participação de Fernanda Gomes de Castro, Sergio Rosa Sales, conhecido como Camelo, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, e Wemerson Marques de Souza no sequestro.

Zezé, segundo a Promotoria, pode responder por homicídio triplamente qualificado, sequestro e cárcere privado de Eliza e do filho, ocultação de cadáver, corrupção do adolescente Jorge Luiz Lisboa Rosa na participação do sequestro de Eliza e o bebê e no homicídio, corrupção de menores, além de uso de violência ou grave ameaça. Já Gilson Costa foi denunciado apenas por grave ameaça.

Freitas destaca ainda que o policial Assis Filho foi o responsável por apresentar Bola ao goleiro Bruno e a Macarrão. Segundo a Promotoria, o trio arquitetou o plano para assassinar Eliza, cuja execução ficou sob a responsabilidade de Bola.

"José Lauriano contribuiu, de forma determinante, para a privação da liberdade do bebê, mediante sequestro, e para sua manutenção em cárcere privado", declarou o promotor em sua decisão no dia 3 de julho.

Em julho de 2011, Zezé e Gilson Costa teriam ameaçado a testemunha Jaílson Alves de Oliveira dentro do DHPP (Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa) de Belo Horizonte. Oliveira havia sido companheiro de cela de Bola na penitenciária Nelson Hungria, em Contagem (região metropolitana de Belo Horizonte), e acabou descobrindo os detalhes sobre a morte de Eliza.

Com medo de ser incriminado, Zezé pediu a Costa para pressionar Oliveira. O policial teria dito a Oliveira que ele tinha três opções: mudar o depoimento, fugir ou ter a esposa assassinada. A testemunha chegou a escapar da penitenciária, sendo recapturado posteriormente, vindo a relatar a coação sofrida, de acordo com a Promotoria.

Em 2013, a Justiça condenou Bruno a 22 anos de prisão pela morte de sua ex-amante Eliza Samudio, cujo o corpo nunca fora localizado pela polícia. Atualmente, Bola –condenado há 20 anos de detenção– e Macarrão estão preso na penitenciária Nelson Hungria.

ENTENDA O CASO

O goleiro Bruno Fernandes conheceu Eliza Samudio durante um churrasco no Rio de Janeiro em maio de 2009. Meses depois, Eliza ficou grávida de Bruno Samudio. Segundo a Promotoria, ao tomar conhecimento da gestação, o goleiro "propôs um acordo financeiro" para que Eliza abortasse o feto.

Com a recusa, o goleiro Bruno passou a arcar com algumas despesas de Eliza e, em julho de 2009, ele a ameaçou de morte durante um encontro em um hotel no Rio de Janeiro. Um mês depois, eles se encontraram novamente no Rio e Bruno a agrediu fisicamente –puxando-a pelos cabelos.

Em outubro de 2009, Bruno se encontrou com Eliza e a agrediu com dois tapas no rosto dentro carro. Além de Bruno, Macarrão e um outro indivíduo não identificado entraram no veículo. Segundo a Promotoria, Bruno estava armado e a manteve prisioneira durante algumas horas. Ao deixá-la em casa, na Barra da Tijuca, Bruno a obrigou a ingerir comprimidos e um líquido desconhecido.

Eliza ficou cerca de 12 horas dopada e, quando acordou, registrou o caso na delegacia. Após o episódio, Eliza mudou-se para a casa de uma amiga em São Paulo. Em fevereiro de 2010, Eliza deu à luz Bruno Samudio e voltou a entrar em contato com o goleiro para que ele reconhecesse a paternidade de Bruno e pagasse uma pensão. Na época, Bruno era jogador do Flamengo, um dos principais clubes de futebol do país.

Em maio de 2010, Eliza foi convidada por Bruno para ir até o Rio para que eles conversassem sobre a realização do teste de DNA e sobre o pagamento de pensão alimentícia. Na ocasião, o goleiro também havia prometido dar um imóvel em Belo Horizonte (MG) a Eliza.

Eliza e o filho foram para o Rio e, em junho de 2010, foram sequestrados por Macarrão e pelo adolescente Jorge Luiz Lisboa Rosa (que estava escondido no bagageiro carro). Segundo investigações, o crime ocorreu a mando do goleiro Bruno, após acordo com Zezé e Bola. Macarrão e Rosa foram os responsáveis por buscar Eliza no hotel e levá-la ao encontro de Bruno, na Barra da Tijuca.

Durante o trajeto, Rosa deixou o porta-malas e apontou uma arma para Eliza: "Você perdeu, Eliza". Ao chegar a casa de Bruno, sua amante Fernanda Gomes de Castro auxiliou Macarrão e Rosa a manter as vítimas no cativeiro. Dayane também ajudou a vigiar Eliza no cativeiro até a sua morte no dia 10 de junho de 2010.


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