Folha de S. Paulo


Antes da inauguração, grupo faz homenagem a ciclistas mortos na Paulista

Fazia muito frio, por voltas das 7h20 deste domingo (28), data da inauguração da ciclovia da avenida Paulista, quando 23 pessoas compareceram a duas cerimônias que homenagearam os ciclistas mortos nas imediações.

Na altura do número 1300, próximo à esquina com a rua Pamplona, as duas bicicletas que ficam amarradas a gradis, marcos de lembrança das mortes de Márcia Andrade Prado e Juliana Dias, receberam novas mãos de tinta branca e foram enfeitadas com flores.

Márcia morreu em janeiro de 2009, aos 40 anos, atingida por um ônibus. Juliana estava com 33 anos quando foi fechada e atropelada por um ônibus, que a atingiu na cabeça, em 2 de março de 2012.

Entre os presentes, na maioria ativistas ligados ao movimento Bicicletada, do qual ambas faziam parte, estavam Roberta Ferrari Andrade, 48, e Adriana Andrade Sertã, 16, primas de Márcia Andrade Prado.

Mãe e filha, as duas moram no Rio de Janeiro e fizeram questão de comparecer à cerimônia. "O que Márcia queria, que era humanizar São Paulo, começa a acontecer um pouco, agora, com essa ciclovia", disse Roberta.

"Minha prima era apaixonada pela cidade. Essa ciclovia é uma vitória dela. De certo modo, nos da uma sensação de que ela não morreu em vão", acredita a prima.

"Quando a Márcia morreu, fazia seis meses que a gente havia começado a Bicicletada. Estávamos todos apaixonados pela ideia", conta a também ciclista Patrícia Iamamoto, 36, arquiteta e amiga de Márcia.

TRAUMA

A morte de Márcia criou um certa trauma na família, no que diz respeito ao uso de bicicletas. Apenas agora, quase seis anos após o incidente, é que a prima Roberta criou coragem para pedalar no Rio de Janeiro.

"Lá é ainda mais difícil que aqui", diz Patrícia, que só percorre os trechos de ciclovia nos bairros de Botafogo, Leblon, Ipanema e Leblon. Quem a está ajudando a superar o trauma é o fotógrafo Henrique Boney, 40, que atua como Bike Anjo –voluntários que ensinam os interessados a pedalar no trânsito.

"Além de pedalar, propriamente, ensinamos também conceitos de direção defensiva e mecânica de bicicleta", conta Boney, que esteve na cerimônia.

"A importância dessa ciclovia vai muito além do seu percurso (de cerca de 2,5 km)", diz Boney. "Aqui temos um símbolo e uma certeza de que outras cidades verão São Paulo como fio-condutor de uma mudança em prol do convívio de ciclistas com carros", acredita.

CICLOVIA NA AVENIDA PAULISTA

Editoria de Arte/Folhapress

Com 2,7 km, a ciclovia da avenida Paulista, na região central de São Paulo, se estende da praça Oswaldo Cruz (Paraíso) à Consolação. Com isso, a gestão Fernando Haddad (PT) atinge a marca de 334,9 km de vias exclusivas para bicicletas em toda a capital paulista.

Na altura da rua Haddock Lobo, já no final da via, com o término do canteiro central, ela continua na faixa da esquerda até a rua da Consolação e segue à direita entre a Consolação e a avenida Angélica.

Se os ciclistas comemoram porque vão trafegar com mais conforto e segurança pelo tapete vermelho, há temor de que falte espaço para acomodar os mais de 1,5 milhão de pedestres que circulam diariamente pela avenida.

A questão divide a opinião de especialistas em engenharia de tráfego. Alguns afirmam que o desenho da pista causa risco de o pedestre ser "espremido" no canteiro central da Paulista se houver trânsito intenso de bicicletas. Outros dizem que a programação dos semáforos da avenida dá ao pedestre tempo suficiente para atravessar e o espaço das "ilhas" criadas no canteiro central será suficiente para acomodar a todos.

A inauguração da ciclovia é vista também como um teste para o projeto de fechar a via para automóveis todos os domingos.

O plano, ainda em estudo, seria transformar o principal cartão postal de São Paulo numa espécie de praça a céu aberto, onde usuários de bicicletas, skates, patins e pedestres iriam se misturar aos artistas de rua que se apresentam por ali.


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