Folha de S. Paulo


Poluição atrai mancha verde a represa de São Paulo

Ana Beatriz dos Santos, 9, olhava atenta para a água na expectativa de ver peixes e tartarugas. Mas o que ela e os colegas de escola avistaram foi uma mancha verde sobre a água do reservatório de Salto Grande, em Americana, na região de Campinas.

A mancha é resultado da presença de cianobactérias, um microrganismo altamente tóxico que se alimenta de nutrientes vindos do esgoto doméstico e industrial lançado no rio Atibaia. Sem chuva para diluir os poluentes, a situação se agravou.

"O passeio foi legal, mas a água estava muito verde e com cheiro ruim", disse Ana Beatriz. "Eu esperava que a água estivesse mais limpa. Fiquei triste e decepcionada", afirmou Julia Romeira, 9.

As duas participaram nesta terça-feira (23) de um passeio na represa organizado pela Barco Escola da Natureza, uma Oscip (organização da sociedade civil de interesse público). Por ano, cerca de 13 mil crianças frequentam a atividade educativa.

RISCOS

As cianobactérias podem causar irritações, em caso de contato com a pele, doenças no fígado e até câncer se ingeridas, afirma Gisela de Aragão Umbuzeiro, professora da Unicamp. "Precisa tratar melhor os esgotos e deixar de lançar [na represa] sem tratamento", diz.

Outro efeito é a mortandade de peixes. A região das bacias PCJ (Piracicaba, Capivari e Jundiaí), onde fica o rio Atibaia, foi a mais afetada em todo o Estado em 2014, segundo relatório da qualidade das águas da Cetesb (companhia ambiental do Estado).

"A situação está cada vez pior. A cada ano a concentração de algas fica maior. Agora, com a escassez hídrica, os poluentes não se diluem, aumentando a presença dessas algas", diz João Carlos Pinto, 55, presidente da Oscip. "Se ela fosse limpa, poderia servir para abastecimento."

As atividades de lazer também vêm caindo na represa, que possui 13,9 quilômetros quadrados.

ABASTECIMENTO

As águas do reservatório se juntam com o rio Jaguari e formam o rio Piracicaba, onde o município de Americana faz captação para abastecer a população de 226 mil habitantes. A direção do departamento municipal de água diz que não há riscos, mas que o tratamento exige mais cuidado.

"Nós investimos muito no processo de tratamento para que a água seja oferecida na melhor qualidade para a população. E sempre monitoramos a qualidade para quando houver problemas acionarmos as autoridades", afirma o diretor Leandro Santos.

De acordo com o Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica), o nível do rio Atibaia (posto Valinhos) estava em 0,77 m na terça, abaixo da média histórica para o mês, que é de 1,07 m.


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